Viagem envolveu a passagem por barreiras de conflito, trajeto da Cisjordânia até Jericó de ônibus e três paradas técnicas já a bordo do avião brasileiro

Os 32 brasileiros resgatados da Cisjordânia pela Força Aérea Brasileira chegaram a Brasília nesta quinta-feira cansados pela longa viagem, que envolveu a passagem por barreiras de guerra, um trajeto da Cisjordânia até Jericó de ônibus e três paradas técnicas já a bordo do avião brasileiro. 

Eles também chegaram aliviados, mas, ao mesmo tempo, angustiados pelos parentes e amigos que ainda seguem na Faixa de Gaza, onde o conflito destruiu cidades, famílias e já fez mais de 10 mil mortos.

Nazmieh Mohamed, 72 anos, foi uma das poucas do grupo que teve como destino final Brasília. Ela estava visitando a família em Ramala quando a guerra começou.

— Estou feliz de estar no meu país onde não tem guerra. Eu estava com medo, tem perigo toda hora lá e já morreu muita gente inocente — disse.

Jalil Abdel, 70 anos, mora no litoral do Paraná e também estava em Ramala, visitando a família. Uma de suas filhas ficou em Ramala.

— A gente fica muito preocupado pela repressão que temos lá — disse Jalil ao pisar na base área em Brasília.

O avião da Força Aérea Brasileira (FAB) pousou às 8h35 na Base Aérea de Brasília, onde 26 dos 32 repatriados desembarcaram. Seis ficaram anteriormente no Recife, primeira parada na chegada ao Brasil.

— Agora estamos mais aliviados depois que vimos os acontecimentos, a situação está bem complicada. Onde estávamos não tinham ataques, mas para se locomover dava muito medo, eles estão armados e nós com família — afirmou Amer Aziz, 40.

— Deixamos nossos parentes lá, nossos amigos. Mas que Deus os proteja. Ficaram minha mãe, meus irmãos, meus amigos, minhas tias. Todo mundo, muita gente lá, sofrendo — disse Farida Habbas Abdaljalil, brasileira que chegou trazendo uma bandeira da Palestina.

Karime Shalabi veio com três filhos para o Brasil, mas deixou uma filha e o marido em Ramala. Ela é do Rio Grande do Sul, mas mora na Cisjordânia há 20 anos. O marido é funcionário da prefeitura e não pôde deixar o país.

— A situação lá agora está muito feia, estava boa, mas depois do atentado do dia 7 de outubro piorou muito. Se você quisesse ficar só dentro de Ramala, vivia bem, mas se quisesse sair para outra cidade não tem como porque tem barreira e corremos perigo de vida. O povo palestino é um povo desarmado e os outros estão armados até os dentes — disse Karime.


Fonte: O GLOBO