Agentes suspeitam que alguns dos alvos, como o ex-chefe da PRF, deletaram as conversas que mantiveram pelo celular

A Polícia Federal tem lançado mão de modernas ferramentas na hora de analisar os celulares de alvos de investigações relacionadas aos atos antidemocráticos que tomaram o país após o fim das eleições do ano passado. Diante da suspeita de que alguns dos investigados tenham apagado mensagens trocadas no período, peritos da corporação tentam usar algumas técnicas avançadas para recuperá-las, além de entrar em contato com as empresas responsáveis pelos aplicativos e plataformas usados pelos alvos.

Após os aparelhos serem apreendidos pelos agentes da PF, alguns são desligados e todos são lacrados e imediatamente enviados ao Instituto Nacional de Criminalística (INC), em Brasília. No local, que conta mais de 30 mil metros quadrados e é um dos maiores do mundo, há áreas reservadas para laboratórios de criminalística inspirados em forças de segurança americanas, como o Federal Bureau of Investigation (FBI) e o Drug Enforcement Administration (DEA).

Já no INC, os telefones são mantidos em um desses laboratórios especializados. Lá, após descriptografarem os celulares, destravando e tornando legíveis os dados protegidos por meio da criptografia, os peritos criminais realizam a chamada cópia forense para então proceder com os trabalhos. Assim, são somente analisados por esses profissionais os conteúdos copiados para os servidores da PF e não os que estão nos próprios aparelhos.


No caso de ter havido a exclusão prévia de textos, fotos, vídeos, informações de duração e horários de ligações telefônicas e videochamadas, além de geolocalizações, os peritos podem utilizar softwares especializados nesse serviço. Um dos mais modernos e famosos é o israelense Cellebrite Premium, que possui capacidade de desbloqueio, extração, transferência e análise de dados não só para celulares, mas também para outros dispositivos móveis, como tablets.

Além de recuperar mensagens trocadas no WhatsApp, o Cellebrite pode atuar também no Facebook Messenger, direct do Instagram, Telegram, SMS, dentre outros meios. Esse programa foi utilizado, por exemplo, pela Polícia Civil do Rio para elucidar o homicídio de Henry Borel Medeiros, em março de 2021. Na ocasião, os telefones da mãe do menino, a professora Monique Medeiros, e de seu namorado, o ex-médico e ex-vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Jairinho, e de funcionários do casal foram apreendidos e tiveram seus conteúdos restabelecidos.


Esse e os demais sistema ainda possibilita a documentação e o registro de todos os procedimentos realizados pelos peritos, a fim de manter a preservação da chamada cadeia de custódia, definida pelo Código de Processo Penal como a história cronológica dos vestígios coletados em locais de crimes, de seu reconhecimento até o descarte.


Caso, ainda que mediante ao emprego de tecnologia, não seja possível acesso ao teor dos celulares alvos das investigações, os policiais federais enviam um ofício com essa solicitação para empresas como a Meta, que controla aplicativos como Facebook, Messenger, WhatsApp e Instagram. Há, no entanto, ainda o risco de elas não terem nenhuma informação útil se os referidos aparelho não possuírem o backup automático, que mantém os dados na nuvem, ou se esse material já tiver sido sobreposto por outro.

Como a colunista Malu Gaspar, do GLOBO, mostrou, um dos telefones apreendidos em que a PF está debruçada tentando recuperar as mensagens apagadas é do ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques, que está preso preventivamente desde agosto deste ano por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Ao chegar no INC, o celular de Vasques não armazenava mensagens que ele enviou a outros investigados e que foram encontradas nos telefones apreendidos dessas pessoas. Ele é alvo de um inquérito que apura se os diversos bloqueios em regiões do Brasil feitos pela PRF interferiram nos deslocamentos de eleitores do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT), favorecendo Jair Bolsonaro (PL).


Fonte: O GLOBO