Atividade de produtos farmoquímicos e farmacêuticos cresceu 18,6% e puxou alta do setor. Apesar do avanço, setor vive 'perde e ganha' e sente efeito dos juros altos

A produção industrial brasileira subiu em agosto, puxada pela atividade de produtos farmoquímicos e farmacêuticos. A alta foi de 0,4%, eliminando parte da queda de 0,6% verificada no mês de julho. Apesar do avanço, a indústria não apresenta bom desempenho neste ano. O setor amarga um recuo de 0,3% em 2023, e a produção segue 1,8% abaixo do patamar pré-pandemia. As informações são da Pesquisa Industrial Mensal (PIM), divulgada nesta terça-feira pelo IBGE.
  • No acumulado nos últimos 12 meses, há uma queda de 0,1%
  • Analistas esperavam alta de 0,1% no mês, segundo mediana das projeções
Juros altos impactam setor

Segundo André Macedo, gerente da pesquisa, o setor industrial permanece operando em um quadro de “perde e ganha”, girando em torno do mesmo patamar. Para o pesquisador, o cenário atual da indústria pode ser explicado pela política monetária de caráter mais restritivo, a despeito de movimentos que já são feitos na redução da taxa de juros.

— Ainda temos um patamar elevado dos juros, o que afeta as decisões de consumo e também de investimentos — explica Macedo.

O resultado do mês de agosto apontou um disseminado de taxas positivas, com expansão de 18 dos 25 ramos industriais pesquisados. Ainda assim, em muitos casos, as altas ocorrem depois de taxas negativas nos últimos meses.

É o caso da atividade de produtos químicos e farmacêuticos, que puxou o resultado em agosto, com alta de 18,6%, após três meses (abril, maio e junho) de quedas, quando acumulou recuo de 18,1% no período.

— É uma atividade caracterizada pela volatilidade maior dentro da série. E essas altas também têm relação com a base de comparação depreciada anterior — ressalta o analista, lembrando que o setor

Em seguida, impulsionaram a alta em agosto os setores de veículos automotores, reboques e carrocerias (5,2%) e equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (16,6%). São atividades que também voltam a mostrar crescimento depois de recuo nos últimos meses e seguem uma lógica parecida com a farmacêutica

— Cresce muito em função dos recuos anteriores, partindo de uma base mais baixa de comparação — diz Macedo. —Exemplifica um pouco do perde-e-ganha que vem se mostrando a indústria nacional — conclui.

Outras contribuições positivas vieram de produtos alimentícios (1,0%), de produtos químicos (2,2%), de máquinas e equipamentos (4,2%), de produtos de borracha e de material plástico (2,9%), de produtos de metal (1,9%), de móveis (5,1%) e de confecção de artigos do vestuário e acessórios (2,8%).

Já entre as quedas, destacam-se produtos diversos (-8,0%), couro, artigos para viagem e calçados (-4,2%) e metalurgia (-1,1%).

O que dizem os analistas?

A indústria tem andado de lado ao longo deste ano, e analistas estimam que a produção continuará baixa até o fim do ano. Pesam sobre o setor as altas taxas de juros, apesar do início do ciclo de queda da Selic, e o alto nível de endividamento das famílias. Tudo isso diminui o ímpeto para um maior consumo e desestimula o aumento da produção da indústria nacional.

O Índice de Confiança da Indústria (ICI) do FGV IBRE caiu pelo terceiro mês consecutivo. Em setembro, cedeu 0,4 ponto, ficando em 91 pontos. Após três meses de quedas, atingiu o pior nível desde julho de 2020 (89,8 pontos).

— Apesar de uma melhora da percepção dos empresários com relação a situação atual, influenciada pela demanda externa de setores relacionados à produção de bens intermediários, isso ainda é insuficiente para que a confiança melhore no curto prazo — comenta Stéfano Pacini, economista do FGV IBRE.


Fonte: O GLOBO