Damian Lillard e James Harden vivem dois lados da moeda da autonomia sobre o próprio futuro dos atletas da liga

Foram meses de rumores entre as notícias de que Damian Lillard havia pedido a troca do Portland Trail Blazers e as de que o vice-campeão Miami Heat seria o principal candidato a adquirir uma das principais estrelas da liga. Mas o destino, anunciado no último dia 27, pegou qualquer torcedor e fã da NBA de surpresa: o armador de 33 anos, que passou toda a carreira na badalada Portland se mudou para a pacata Milwaukee, onde atuará ao lado de Giannis Antetokounmpo nos Bucks. Um produto do crescente poder de escolha das estrelas da liga sobre seus futuros.

O nascimento da dupla automaticamente reorganiza forças na liga. Com dois atletas de elite vivendo grandes momentos nas carreiras, os Bucks, campeões de 2021, voltam a ser fortes candidatos ao título da temporada, que começa no dia 24 de outubro. A troca que levou Lillard aos Bucks envolveu ainda o Phoenix Suns, e acabou levando, já em movimento consequente, o armador Jrue Holiday, um dos pilares dos Bucks, a formar um super perímetro com Jayson Tatum e Jaylen Brown no Boston Celtics, outro favorito ao título.

Todo esse efeito dominó aconteceu porque Damian estava insatisfeito em Portland. Foram 11 temporadas nos Blazers e poucos momentos em que o time ajudou sua estrela, sete vezes all star, a chegar longe competitivamente. O melhor resultado foi uma final de Conferência Oeste. No fim, o atleta exerceu o fim de sua paciência num pedido de troca, atendido — ao menos publicamente — sem crise por parte da franquia.

Enquanto isso, na Pensilvânia, outro craque da liga vive um lado diferente da moeda. James Harden, que tenta de forma desesperada deixar o Philadelphia Sixers, vem se envolvendo em polemicas atrás de polêmicas com a diretoria da franquia.

Em agosto, o jogador de 34 anos gravou vídeo detonando o GM (gerente de basquete) dos Sixers, Daryl Morey:

— É um mentiroso, nunca farei parte de uma organização da qual ele é parte.

As falas levaram a uma investigação da NBA. Por sua vez, Morey admite que está buscando uma troca para o atleta, que está desde 2020 nos Sixers. Harden faltou ao media day e ao primeiro dia de treinos da franquia. Um divórcio litigioso e bem mais doloroso que o de Lillard.

Pedidos de trocas não são proibidos na NBA, apenas rendem multa quando são feitos publicamente. Mas fazem parte de um ecossistema em que franquias podem trocar atletas livremente e os próprios jogadores, por sua vez, têm uma série de direitos garantidos por um acordo trabalhista coletivo celebrado e atualizado de tempos em tempos. Na prática, a NBA é uma corda que se tensiona igualmente para os dois lados. Mas o número crescente de pedidos de troca, especialmente por parte de estrelas, tem surpreendido a liga.

Debates surgem

No fim da temporada passada,quando a NBA ainda vivia o baque de ver Kevin Durant e Kyrie Irving, dois dos maiores nomes do basquete americano, pedindo para sair do Brooklyn Nets ao mesmo tempo, os debates cresceram. Afinal, os atletas devem gratidão e paciência às franquias e torcidas ou se trata totalmente de negócios? Na época, a diretora-executiva da associação de jogadores, Tamika Tremaglio, via a situação como positiva:

— Falei com Adam (Silver, comissário da liga) sobre como a temporada está boa e competitiva. Certamente, o fato de vermos tantas trocas significa que muitos acreditam que podem criar times campeões — disse ela ao jornal Washington Post, em fevereiro deste ano.

Comentarista dos canais ESPN, Guilherme Giovannoni explica o jogo de forças envolvido nesses pedidos:

— Nenhum time quer ficar com um jogador que não queira ficar, sob o risco dele não se dedicar ao máximo. Isso tem dado muito poder aos jogadores. Mas os times também têm usado o que podem, eles trocam para quem quiserem — avalia.

Foi o caso de Lillard e do Heat, que não teria conseguido oferecer o pacote esperado pelo Portland. Mas nem assim o armador deixou de chacoalhar a NBA com a mudança.


Fonte: O GLOBO