Servidora pública e professora de acrobacia conta como chegou a diagnóstico e como tem lidado com o tratamento. Em menos de cinco anos, mais de 670 novos casos de câncer de mama foram registrados no estado.

“Não dá para romantizar. Eu sinto coragem e eu sinto medo todos os dias. Tenho vontade de desistir todas as vezes que eu faço quimio.” É com essa frase que a servidora pública e professora de acrobacia Iri Nobre, define o sentimento que é lidar com um diagnóstico e tratamento de câncer de mama.

Ela está entre as mais de 60 pessoas diagnosticadas este ano no Acre com a doença, segundo dados do Ministério da Saúde, divulgados a pedido do g1 pelo Núcleo de Prevenção de Doenças Crônicas da Secretaria Estadual de Saúde do Acre (Sesacre).

Iri conta que em 2019 sentiu um nódulo no seio ao fazer o toque e procurou um médico. Na época, ela passou por todos os exames que confirmaram se tratar de um cisto líquido. Passado o susto, veio a pandemia da Covid-19 e ela lembra que, assim como a maioria das pessoas, acabou deixando de fazer o acompanhamento médico anual.

“Passar por esse processo em 2019 foi extremamente tenso, foi terrível aguardar o resultado. Mas, aí chegou e era só um cisto. Acredito que isso me colocou em uma zona de conforto, aí veio a pandemia que colocou todo mundo de pernas para o ar. Todas as rotinas mudaram, inclusive a das mulheres de fazer seus exames e comigo não foi diferente.

Então, não fiz em 2020 e nem em 2021. Em 2022, comecei a entrar na menopausa precoce e apareceu um nódulo no mesmo local e eu pensei que fosse o cisto que tinha enchido novamente. Seis meses depois de sentir esse nódulo, em dezembro, eu fui na médica, fiz todos os exames e quando ela viu os resultados me encaminhou para o Cecon”, lembrou.

Diagnóstico

No Centro de Controle Oncológico do Acre (Cecon), Iri passou por outros exames e veio o diagnóstico: um câncer de mama, considerado agressivo, de nível três em uma escala onde o quatro é o último tamanho.

“Quando veio o diagnóstico, meu mundo se abriu. Um novo universo, aliás, se abriu para minha vida. É isso que acontece. É aí que você vai descobrir a chamada realidade paralela, um mundo de outras coisas, o câncer de mama se subdivide em dezenas de tipos, que se subdividem em receptores e não receptores, positivos e negativos. A gente fala que o diagnóstico precoce é importante, mas a gente não tem dimensão desse diagnóstico o quanto antes, de fato, até a gente passar por isso. Quando fechou o diagnóstico, fui para uma correria”, contou.

Após o diagnóstico em março deste ano, a servidora pública conta que foi encaminhada para o Hospital do Câncer do Acre (Unacon), onde soube que passaria por uma cirurgia. Ela disse que acabou não sendo bem recebida pela profissional de mastologia, que teria sido resistente em proceder com a cirurgia para garantir a simetria dos seios. Foi então que decidiu retornar à médica que tinha feito o atendimento na Cecon para tentar fazer esse procedimento de simetria.

“Como que eu iria conseguir encarar tudo que vem depois, que é a quimioterapia que é a fase mais dolorosa, sem conseguir olhar no espelho, mutilada? Então, voltei na mastologista que tinha me atendido e ela disse que faria.

A cirurgia foi feita no dia 29 de junho e agora estou no meio da quimioterapia, estou na terceira sessão e devo terminar em novembro. É uma quimio mais branda, exatamente porque eu fiz a cirurgia antes. Após isso, vou refazer todos os exames e eles vão definir o novo protocolo para radioterapia e também vou fazer hormonioterapia e imunoterapia”, afirmou.

Iri disse que o segredo para passar por esse processo é continuar vivendo, apesar de tudo.

“Temos que viver o presente, focar o máximo no presente. Tem um poema que eu adora que diz que esse momento é só uma vírgula para transformar sua vida. Quando eu entendi isso, eu vi que o câncer não é para quem quer, é para quem pode. E ele não é uma maldição, ao contrário, ele pode ser, exatamente, um instrumento para salvar muitas vidas.”


Iri trava uma batalha contra o câncer de mama e fala da luta — Foto: Luísa Uchoa

Casos de câncer no Acre

O Acre registrou mais de 670 casos de câncer de mama em um período de menos de cinco anos. Os dados são referentes ao período de 2019 a julho de 2023.

Nos sete primeiros meses deste ano foram registrados 64 novos casos de câncer de mama no estado acreano. No mesmo período, 56 pacientes precisaram ser internadas por conta da doença.

Em 2022, mais de 200 pessoas receberam o diagnóstico de neoplasia maligna da mama. No ano anterior, também mais de 200 novos casos foram registrados no estado.

Com relação aos óbitos, os dados do Ministério da Saúde apontam que quatro pessoas morreram em decorrência do câncer de mama entre janeiro e julho deste ano no Acre. Em todo o ano passado foram 36 e em 2021 foram 37 óbitos pela doença.

A Sesacre divulgou ainda dados de novos casos de câncer de colo uterino e do útero registrados pelo Hospital do Câncer do Acre (Unacon).

Conforme o levantamento, este ano, 58 mulheres foram diagnosticadas com câncer de colo do útero e nove receberam o diagnóstico de câncer de útero este ano entre janeiro e julho. No ano passado, foram 123 novos casos de câncer de colo uterino e 28 de útero.

Fonte: G1