Segundo Sindicato dos Metalúrgico do Amazonas, de 15 mil a 17 mil operários devem parar por sete a dez dias. Procura por itens como motos, aparelhos de ar-condicionado e TVs é maior que o esperado e seca está dificultando chegada de peças
Começa na segunda-feira o período de férias coletivas que vão durar de cinco a 20 dias em, pelo menos, 33 indústrias na Zona Franca de Manaus, de acordo com o Sindimetal de Amazonas. Segundo o presidente do sindicato dos metalúrgicos, Valdemir Santana, vão parar de 15 mil a 17 mil profissionais. As férias coletivas, que costumam ocorrer no início de dezembro, foram antecipadas pela demanda maior, principalmente de motos, ar-condicionado e TVs, e a seca mais intensa do que a esperada pelo setor:
— De acordo com os números que temos, o planejamento foi feito para produzir 1,1 milhão de motos para esse fim de ano, mas a demanda foi de 1,5 milhão. Contrataram mais gente, mas a seca está dificultando chegar mais peças para atender a essa demanda maior, por isso, a paralisação. Agora, alegam que a culpa é da estiagem, mas a culpa é do erro de planejamento. Já se sabia que a seca seria mais severa esse ano.
Santana diz que não haverá problema para o abastecimento da Black Friday e do Natal, apesar da parada técnica no maior polo industrial do país.
— A previsão é de chegada do material em sete a dez dias — afirma Santana.
O sindicalista diz que o descasamento entre produção e demanda é decorrente da mudança de expectativa para o crescimento este ano, que passou de um percentual perto de 1% para cerca de 3%.
Para Lúcio Flávio Morais de Oliveira, presidente executivo do CIEAM (Centro da Indústria do Estado do Amazonas), a maioria das empresas estava preparada para antecipar a entrega de estoques, passando a usar outro modal, não a cabotagem.
— A expectativa é que em quinze dias a situação volte à normalidade, mas não vejo a possibilidade de afetar Black Friday.
Equilíbrio da produção
Segundo Oliveira, as férias coletivas são um instrumento de gestão para equilibrar a linha de produção. Mas trata-se de fator pontual, destacando que há indústrias que não vão parar.
Segundo a Associação Brasileira dos Armadores de Cabotagem (Abac), a crise hídrica da região do Amazonas vem paralisando as operações desde meados de setembro. De acordo com a entidade, há pouco mais de um mês as empresas não estão mais fazendo reservas de contêineres a serem alocados nos navios, um processo chamado de booking. Também não estão sendo feitas reservas de novos transportes de carga para a região.
Estiagem até maio
Assim, conforme a Abac, as empresas que atuam na Região Norte não conseguem mais transportar as cargas até Manaus. Alternativas têm sido propostas, mas com preços maiores, segundo executivos. De acordo com a Abac, a seca pode superar o ano de 2010, até então o pior momento do setor na região.
A previsão é que a estiagem deverá durar até maio de 2024, com ápice em outubro. Esse ano a falta de chuvas é acelerada pelos impactos do El Niño. Em geral, a estiagem começa em outubro, mas esse ano a seca já afetou as operações em setembro. Para o abastecimento do centro logístico em Manaus, o problema maior, por enquanto, acontece na enseada do Rio Madeira.
A Abac lembra que, apesar das reuniões entre governo federal, Marinha e empresas do setor, algumas ações ainda estão em processo de implantação. “Para piorar, os custos com batimetria (medição da profundidade) se tornaram inviáveis”, disse a Abac, lembrando que não há divulgação de informações oficiais de batimetria dos trechos criticos.
“Com todos estes problemas, os maiores prejudicados são a população e as empresas da região, que ficam desabastecidas e pagam mais pelos produtos, cada vez mais escassos”, afirma a associação em nota.
Segundo Oliveira, da CIEAM, o setor reivindica uma obra com dragagem em dois pontos críticos e manutenção do calado para navegação o ano inteiro.
Fonte: O GLOBO
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