A população de botos e tucuxis no Lago Tefé é estimada em 900 e 500 indivíduos; um barco flutuante com piscina foi alugado, para onde serão levados os animais resgatados com vida

Pesquisadores do Grupo de Pesquisas em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Instituto Mamirauá alertam para a morte de mais de 100 botos, o equivalente a cerca de 5% da população, no Lago Tefé, no interior do Amazonas. A temperatura da água chegou a 40ºC e pode ser considerado um dos um dos fatores que contribui para a morte de 110 botos, incluindo os vermelhos e tucuxis.

“Estamos enfrentando um evento de mortalidade incomum de botos amazônicos no Lago Tefé – uma situação muito preocupante e grave. Entre sábado (24) e segunda-feira (2), perdemos 110 animais entre botos-vermelhos e tucuxis”, explicou a pesquisadora Miriam Marmontel, do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, organização social vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. A população de botos e tucuxis no Lago Tefé é estimada em 900 e 500 indivíduos.

Urubus se alimentam de carcaça de boto em leito de rio ressecado em Tefé (AM) — Foto: Instituto Mamirauá

Segundo a pesquisadora, a causa da morte desses animais ainda é desconhecida. No entanto, ela acredita que a mortandade está ligada às altas temperaturas das águas.

“A minha impressão é que tem algo na água, obviamente, relacionado à situação de seca extrema, baixa profundidade dos rios e, consequentemente, ao aquecimento das águas. A média histórica da temperatura da água no Lago do Tefé é de 32 graus e, na quinta-feira, nós aferimos 40 graus até três metros de profundidade”, disse.

Segundo os pesquisadores, o aquecimento da água pode ter provocado a proliferação de algum patógeno - organismo - que adoeceu os animais. Miriam Marmontel explicou ainda que foi alugado um barco flutuante com piscina, para onde serão levados os animais resgatados com vida. O objetivo é manter os animais nesta piscina até sair o resultado da análise dos estudos.

“Se for um agente infeccioso, seria muito arriscado liberar os animais para o rio Solimões, pois terminaria infectando o resto da população. Aparentemente, isso é um evento isolado no Lago Tefé, e não há registro de algo semelhante acontecendo nas cidades do entorno”, concluiu a pesquisadora.

A causa das mortes dos mais de 100 botos no Lago Tefé, no interior do Amazonas, também está sendo investigada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). “Protocolos sanitários foram adotados para a destinação das carcaças. O ICMBio segue reforçando as ações para identificar as causas e, com isso, adotar medidas para proteger as espécies”, informou o ICMBio.

Nível dos rios

O nível dos rios amazonenses tem baixado, o que dificulta o abastecimento e o transporte na região. A estiagem deste ano é agravada pelo El Niño, fenômeno climático que se caracteriza pelo aquecimento das águas superficiais do Oceano Pacífico na região do Equador. Isso causa a interrupção dos padrões de circulação das correntes marítimas e massas de ar, o que leva a consequências distintas ao redor do mundo.

O diretor do Instituto Mamirauá, João Valsecchi, acrescenta que o baixo nível da água no Lago Tefé também tem causado transtornos para a população. “Os eventos extremos têm impactado não somente a biodiversidade da região, mas também a população da Amazônia pela dificuldade de mobilidade, incluindo restrição de acesso a muitas áreas, e consequentemente o aumento do custo de vida”, relatou.

Segundo o diretor do Mamirauá, na seca de 2010, o Lago Tefé atingiu um nível ainda mais baixo, mas os impactos da seca atual podem ser piores. “Esta seca de 2023 pode se tornar mais extrema. Mesmo antes de atingir níveis tão baixos, o evento causou mais danos do que qualquer outro anterior. 

Isso provavelmente é consequência de um acúmulo de impactos causados pela poluição urbana, pelo assoreamento do Rio Tefé, pela poluição do ar devido ao grande número de queimadas, e pode ser que ainda sejam descobertos outros agravantes.”


Fonte: O GLOBO