É importante que os pais conversem com os filhos sobre o conflito no Oriente Médio, mas sem entrar em detalhes e reforçando que eles estão seguros

Imagens do conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas estão por todo lugar. Além da televisão e veículos jornalísticos, elas inundam as redes sociais. Para piorar, nestas plataformas, são os vídeos e imagens mais aterrorizantes que ganham tração e atingem o maior número de usuários.

O problema é que, na atualidade, muitos dos que são expostos a esse tipo de conteúdo são crianças. O GLOBO ouviu especialistas para entender como os pais devem agir nestes casos e qual é a melhor forma de conversar com os pequenos sobre o que está acontecendo no mundo neste momento.

Tanto o pediatra Daniel Becker, colunista do GLOBO, quanto o psicólogo e educador Marcos Meier concordam que é mais interessante ter uma postura proativa e conversar com as crianças sobre o que está acontecendo, do que ficar tentando impedir que elas saibam ou vejam algo sobre o assunto, já que é provável que mais cedo ou mais tarde isso aconteça.

— Hoje em dia é muito difícil isolar uma criança das notícias, especialmente as que tem acesso às mídias sociais — diz Becker.

— Muitos pais tentam evitar o assunto, achando que assim estão protegendo seus filhos. Mas essa postura não protege porque elas acabam vendo alguma imagem, seja no celular ou na televisão, não entendem o que está acontecendo e isso gera medo ou ansiedade. O ideal é fazermos uma mediação. Uma das teorias mais modernas de educação é a Teoria da Mediação da Aprendizagem do israelense Reuven Feuerstein. Ele diz que precisamos mediar o mundo para as crianças — completa Meier.

O psicólogo acredita que já é possível conversar com crianças a partir de 4 anos de idade, pois elas "já entendem um pouco mais sobre as regras sociais". Por outro lado, o pediatra Daniel Becker reforça que crianças com menos de 7 anos não deveriam ter a esse tipo de conteúdo.

A conversa deve então ser filtrada, modulada de acordo com a idade da criança e escalonada de acordo com "nível de conhecimento" dela sobre o assunto. Por exemplo, em um primeiro momento, Meier recomenda não dar detalhes. Apenas explicar superficialmente que há um conflito envolvendo duas regiões.

Mas é importante se colocar à disposição para conversar mais sobre o assunto, caso a criança queira. Assim ela ficará à vontade para fazer perguntas caso ouça ou veja algo sobre o assunto e precise de mais detalhes para entender tudo isso.

— Se não houver essa conversa e a criança vir alguma imagem ou souber do conflito pelos coleguinhas, por exemplo, ela pode ficar com medo de que aquilo vai acontecer com ela. Inconscientemente, ela se sente desprotegida. Por isso, ao explicar o conflito, é importante deixar claro que tudo isso está acontecendo muito longe e que ela está segura — recomenda o psicólogo e educador.

Outro ponto levantado pelos especialistas é a importância de retardar ao máximo a entrega do primeiro celular às crianças e seu acesso às redes sociais. Becker recomenda que crianças só tenham celular próprio a partir de, pelo menos, 12 ou 13 anos. Já o acesso às redes sociais deve ser, no mínimo, aos 13 ou 14 anos. E ao proporcionar-lhes esse acesso, também é importante ajudá-los a desenvolver pensamento crítico.

— É preciso ajudá-los a entender que eles não devem ver vídeos violentos porque isso faz mal e pode ser traumático para a saúde mental. Também é importante explicar que a violência existe e que nossa tarefa é combatê-la com empatia e mensagens positivas.

Apesar de ressaltarem a importância de conversar com as crianças sobre o assunto e de explicar que a violência existe, ambos afirmam que o ideal é evitar ao máximo que as crianças sejam expostas a imagens e vídeos do conflito.


Fonte: O GLOBO