Problemas que separam Libra e Forte da unificação são poucos. Basta que negociem com pragmatismo e senso de urgência

Existem dois desfechos possíveis para o imbróglio entre Libra e Forte Futebol. Um se dá por meio da hostilidade. Os grupos deixam o plano de fundar a liga na gaveta e seguem como meros blocos para a venda dos direitos de transmissão do Brasileirão. Neste caso, arrecada-se menos dinheiro do que se pode, perde-se a oportunidade histórica de reestruturar o futebol nacional. Na melhor das hipóteses, o assunto é adiado por anos, até que alguns clubes quebrem e queiram tentar de novo.

O outro desenlace à vista é o da conciliação. Existem três camadas de interesses na história: clubes, intermediários e investidores. A intenção declarada de constituir a liga é comum entre todos, mas, por uma série de desentendimentos, essas pessoas se puseram em lados opostos. Opostos, mas não inconciliáveis. Mal percebem os articuladores que os problemas que separam Libra e Forte da unificação são poucos. Basta que eles sentem para negociar com pragmatismo e senso de urgência.

Quando cito esses indivíduos, não me refiro aos dirigentes. A realidade é que quem está à frente de um clube de futebol trabalha com duas preocupações constantes: o resultado do próximo jogo e o fluxo de caixa. Em campo, tem que vencer. Fora dele, é preciso dinheiro para pagar salários, custos da atividade e alguns credores, não necessariamente todos. Eles não conseguem se preocupar demais com questões que só estourarão daqui a alguns anos, então delegam a terceiros.

Do lado da Libra, o investidor que se apresenta é o Mubadala. Trata-se de fundo dos Emirados Árabes com deep pockets (bolsos fundos), como eles dizem em reuniões com potenciais sócios. Do lado do Forte, os nomes são Life Capital Partners e Serengeti. Ambos têm menos dinheiro, mas foram além do concorrente na amarração do negócio com a turma do futebol. Enquanto Mubadala só tem uma antecipação de verba a clubes da Libra, investidores do Forte estão prestes a concluir o negócio.

Nenhum dos fundos tem, sozinho, todo o dinheiro. LCP e Serengeti são gestores de investimentos de terceiros, então estão no mercado para captar os bilhões que prometeram aos clubes. Mubadala tem acesso ao fundo soberano de Abu Dhabi, o que lhe dá vantagem, mas está aberto à entrada de sócios desde o começo. Pois vejam só. Se os investidores do Forte trouxerem alguém com dinheiro para valer — e este alguém já existe —, é possível que haja a composição com o investidor da Libra.

Se houver acordo entre as figuras que põem o dinheiro, resta o entendimento entre quem o recebe — eles, os cartolas. A Libra já fez concessão ao montar uma divisão de cotas do Brasileirão que equilibra ao longo de cinco anos, o chamado período de transição, e/ou à medida que a receita da liga aumentar. Porém, o grupo insiste no mínimo garantido que protege o Flamengo na hipótese de haver pouca receita. Já o Forte prega o equilíbrio imediato das cotas, sem transição e sem garantia.

Não existe negociação nota dez para todo mundo. Um cede aqui, outro ali, chega-se a termos que podem ser sete para cada lado e viabilizam o negócio. No meio-campo, intermediários e investidores se arranjam entre interesses comerciais e comissões. Se eu tivesse esse poder, trancaria todos numa sala de reuniões e só os deixaria sair quando houvesse solução para a liga. O outro desfecho possível, dos bloquinhos, da hostilidade e do negócio mambembe, será catastrófico — vocês sabem disso.


Fonte: O GLOBO