Paralisação da agenda legislativa ameaça financiamento do governo Biden enquanto decisão em torno de novo nome apenas começa; deputados radicais sugerem indicação de Donald Trump para o cargo

Após a Câmara dos Deputados dos EUA destituir o republicano Kevin McCarthy de sua Presidência, na terça-feira, a vida política na Casa Legislativa entra em um período de paralisia para a escolha de um sucessor. Pouco depois da votação que derrubou McCarthy, integrantes do Partido Republicano (maioria na Câmara), já se reuniam para definir o futuro da liderança.

McCarthy se tornou o primeiro presidente da Câmara dos EUA, na história moderna do país, a ser destituído do cargo após uma moção apresentada pelo deputado Matt Gaetz, republicano da Flórida ligado à ala mais extremista do partido. A deposição de McCarthy recebeu 218 votos "sim" (contando democratas e 11 republicanos) e 208 "não". Como a proposta precisava apenas de maioria simples, o presidente perdeu o cargo.

A partir de agora, novas tratativas começam na Câmara. O deputado Patrick McHenry, republicano da Carolina do Norte, foi nomeado presidente interino da Câmara, com a função de liderar a eleição de um novo presidente. McHenry era o primeiro nome de uma lista de sucessão privada que McCarthy apresentou no início de seu mandato.

Patrick McHenry foi nomeado presidente interino para conduzir novas eleições da liderança na Câmara — Foto: Anna Moneymaker/Getty Images/AFP

Republicanos da Câmara se reuniram ainda na terça-feira para traçar seus próximos passos, mas há indícios de que o consenso em torno de um nome que represente todas as alas do partido seja difícil. A própria eleição de McCarthy, no começo do mandato, levou sucessivas rodadas de votação, principalmente pela resistência de setores mais radicais entre os correligionários.

Do lado governista, o Partido Democrata pretende indicar o deputado Hakeem Jeffries, atual líder da minoria, para o cargo de presidente da Casa. Sua ascensão ao cargo é, contudo, extremamente improvável, uma vez que os republicanos detêm maioria.

McCarthy disse, na terça-feira, que não se candidataria a presidente novamente, de acordo com legisladores que participaram de uma reunião a portas fechadas sob o Capitólio, e nenhum outro republicano se apresentou para tal — o que é preocupante do ponto de vista da retomada das atividades no Congresso.

Os nomes inicialmente especulados incluem o deputado Steve Scalise, da Louisiana, o segundo republicano da Câmara, que está em tratamento de quimioterapia para câncer no sangue; O deputado Tom Emmer, de Minnesota, o terceiro republicano na Câmara e o líder da maioria; a deputada Elise Stefanik, a mulher mais importante na liderança republicana; o deputado Tom Cole, de Oklahoma, amplamente respeitado presidente do Comitê de Regras da Câmara; e McHenry.

Alguns republicanos, porém, sugerem ir mais longe para encontrar um novo líder — já que, pela lei americana, o presidente não precisa ser membro do órgão. O deputado Troy Nehls, do Texas, disse na rede X (antigo Twitter) que Donald Trump deveria ser indicado como presidente da Câmara. A proposta também foi feita pela deputada Marjorie Taylor Greene, da Geórgia, que escreveu que Trump é “o único candidato a presidente da Câmara que apoio atualmente”.

Até que alguém consiga obter 218 votos ou mais, a Câmara continuará a realizar eleições para definir o presidente — sem limite de data para um desfecho. Enquanto isso, a pauta legislativa da Casa fica travada.

Para o governo americano, o trancamento da pauta é especialmente preocupante pela necessidade de que a Câmara volte a aprovar o financiamento federal das agências e dos serviços públicos federais. Caso a Câmara não defina sua liderança, o risco de "apagão" federal volta a crescer.


Fonte: O GLOBO