O uso de termos como "remédio para emagrecer" ou "canetas emagrecedoras" apontam para a discrepância na forma de discutir o tratamento da doença

EA Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO) alertam para a necessidade de adotar uma linguagem mais apropriada ao discutir a obesidade e tratamentos. Elas afirmam que termos como "remédio para emagrecer" ou "canetas emagrecedoras" perpetuam o estigma que envolve a doença e sugerem que esses medicamentos são destinados apenas a pessoas que desejam perder peso por razões estéticas.

“Esses termos sugerem que esses medicamentos são destinados a qualquer pessoa que deseje perder peso de forma rápida e temporária. Além disso, o uso de termos inadequados pode criar a impressão de que esses medicamentos são destinados apenas à perda de peso temporária, em vez de um tratamento a longo prazo para uma doença crônica”, diz o endocrinologista Bruno Halpern, presidente da ABESO e do Departamento de Obesidade da SBEM, em comunicado.

Em documento que será apresentado no Congresso Brasileiro de Atualização em Endocrinologia e Metabologia (CBAEM 2023), as sociedades propõem adotar o uso de expressões como "medicamentos para tratar a obesidade".

"O uso de termos como ‘medicamentos para tratar a obesidade’ ou ‘medicamentos anti-obesidade’ enfatiza que o tratamento visa a doença em si e não apenas a um sintoma”, esclarece Halpern, um dos autores do documento.

O documento conjunto destaca que o tratamento da obesidade vai além da simples perda de peso e engloba a melhoria da saúde e da qualidade de vida. Além disso, ressalta que os medicamentos desempenham um papel importante no tratamento da obesidade, especialmente quando combinados com mudanças no estilo de vida, e mostra ainda que o estigma relacionado à doença tem um impacto significativo na saúde mental e física das pessoas afetadas, podendo prejudicar ainda mais o bem-estar e contribuir para comportamentos alimentares prejudiciais.

Estudo revela diferenças no uso dos termos

O artigo “Anti-obesity medications” or “medications to treat obesity” instead of “weight loss drugs” – An official statement of the Brazilian Association for the Study of Obesity and Metabolic Syndrome (ABESO) and the Brazilian Society of Endocrinology and Metabolism (SBEM)” revela uma diferença significativa na forma como esses termos são referidos em pesquisas online e em bases acadêmicas, destacando a importância de uma mudança na narrativa. 

Enquanto o termo “medicamentos para perda de peso" geraram 2,2 milhões de resultados em uma pesquisa no Google, os termos “medicamentos anti-obesidade”, “drogas anti-obesidade” e “drogas ou medicamentos para tratar a obesidade” produziram, juntos, apenas 428 mil resultados.

Já ao se analisar bases de dados acadêmicas a situação muda. Enquanto o termo "agentes anti-obesidade” produz mais de 19 mil resultados, “medicamentos/drogas/agentes para perda de peso”, reúne menos de 500.

“Isso destaca a lacuna entre a produção científica e a tradução para o público e enfatiza a necessidade de melhorar a linguagem para combater o estigma da obesidade e promover uma compreensão precisa da condição e dos tratamentos”, destaca Halpern.

A obesidade é uma doença crônica que está associada a diversas comorbidades, incapacidades e riscos à saúde, além de afetar negativamente a qualidade de vida das pessoas. No entanto, ainda é amplamente subdiagnosticada e subtratada.

" O estigma da obesidade, bem como o estigma associado ao tratamento, contribuem para essa situação”, afirma Halpern.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que a obesidade afetará 700 milhões de pessoas até 2025. No Brasil, dados do Ministério da Saúde indicam que mais de 6,7 milhões de pessoas convivem com a doença.

Nesse contexto, a SBEM e ABESO fazem um chamado à imprensa, profissionais de saúde e à comunidade para adotar uma linguagem mais respeitosa e precisa ao discutir a obesidade e os tratamentos.

“A mudança na linguagem pode desempenhar um papel fundamental na redução do estigma associado à obesidade e na promoção de um tratamento mais eficaz e humano”, ressalta Paulo Augusto Miranda, presidente da SBEM.


Fonte: O GLOBO