Startup levantou cheque de R$ 6,8 milhões com Domo Invest e Headline XP

De "cliente oculto" a repositor de gôndola, de promotor de vendas a pesquisador de opinião — uma startup brasileira que reúne e distribui serviços esporádicos demandados por empresas acaba de levantar R$ 6,8 milhões em investimento por meio de veículos criados por dois fundadores do Buscapé.

Quem assina o cheque recebido pela Mission Brasil são as gestoras Domo Invest, de Rodrigo Borges, e a Headline XP, de Romero Rodrigues e que tem a XP como sócia. O aporte é uma aposta em segmento de muitos nomes — "microtasking", "microjob", "gig economy", "staff on demand" etc. — e que desperta críticas de quem questiona os reveses sociais da fragmentação do trabalho e da precarização. Mas o investimento sugere que, por ora, a perspectiva de expansão do segmento segue inabalada.

A Mission foi fundada em 2016 por Thales Zanussi, engenheiro que passou pela Deloitte e descobriu o negócio enquanto atuava na IntelServ, de call center. A firma havia criado, em joint-venture com a Cetip, uma aplicação que pagava centavos a usuários que fotografassem placas de carro. O serviço seria útil para o mercado de financiamento de veículos e de seguros, mas acabou sendo abandonado quando a Cetip se fundiu com a B3.

—Perdemos o "funding", mas vimos que havia ali um negócio. Aí eu saí da empresa e decidi empreender — explica o CEO Zanussi, que antes havia levantado R$ 3,7 milhões com o Carpa Family Office (de Ian Dubugras) e a Alvarez & Marsal.

'Shopper por um dia’

A companhia consiste de uma plataforma que permite que empresas demandem trabalhadores ocasionais para realização de tarefas. Por meio de um aplicativo, os usuários podem escolher essas "missões", cuja remuneração vai de apenas R$ 20 a milhares de reais, de acordo com o CEO.

—Uma "missão" super comum é ser "shopper por um dia", que é fazer compras em um supermercado. Outro bastante frequente é ser "cliente oculto", tanto na concorrência quanto na própria loja contratante. Já fizemos isso até no Bondinho do Pão de Açúcar. Outra coisa é a pesquisa de opinião. A gente consegue enviar pessoas a 5 mil cabeleireiros pelo Brasil para coletar informações sobre quais são os critérios para a compra de produtos de beleza, por exemplo — acrescentou.

Entre as empresas que demandam esses "bicos" estão JBS, Porto Seguro e Grupo Pão de Açúcar (GPA). Zanussi diz que 300 mil tarefas já foram realizadas pela plataforma, sendo que o ritmo atual está entre 30 mil e 40 mil por mês. O número de trabalhadores cadastrados, segundo o CEO, subiu de 40 mil para 450 mil desde 2021. O rendimento médio mensal de quem trabalha com a plataforma, de acordo com Zanussi, é de R$ 2,3 mil.

Com o aporte, a startup diz que quer triplicar o faturamento mensal para uma base anual de R$ 18 milhões e começar a operar em outros países, olhando para mercados emergentes na América Latina, na África e na Ásia.

Controvérsia

No momento em que a precarização e a eliminação do trabalho ganham evidência diante do encantamento corporativo com a inteligência artificial e que o Uber é condenado, em primeira instância, a pagar indenização de R$ 1 bilhão e assinar carteira de motoristas, Thales Zanussi oferece uma defesa "descomplexada" da chamada "gig economy":

— A IA vai tirar pessoas do mercado de trabalho, e essas pessoas precisarão de outra forma de trabalho. Nós estamos no ramo do "job as a service", que é um novo ecossistema que está sendo construído. Ele vai mudar a forma como as pessoas ganham dinheiro. Nossa aposta é que as pessoas terão alternativas de renda ligadas ao "skill" que possuem em plataformas "gameficadas".


Fonte: O GLOBO