Crianças com transtorno do espectro do autismo e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade têm menor eficiência em uma etapa fundamental na desintoxicação do BPA

A incidência de transtorno do espectro do autismo (TEA) e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) aumentou muito nas últimas décadas. As razões são em grande parte desconhecidas, embora se acredite que os fatores ambientais sejam importantes. Um novo estudo publicado na revista científica PLOS ONE sugere que a exposição ao aditivo plástico bisfenol A, conhecida como BPA, pode desempenhar um papel nisso.

Estudos anteriores já haviam encontrado associações entre crianças com autismo e exposição ao BPA. O novo trabalho, feito por pesquisadores da Rowan-Virtua School of Osteopathic Medicine e da Rutgers University-New Jersey Medical School, em Newark, descobriu que a razão para essa associação é a diminuição da eficiência em uma etapa fundamental envolvida na desintoxicação do BPA.

O bisfenol A ou BPA é um composto orgânico sintético comumente utilizado na produção de produtos plásticos, por ser um composto que confere maior resistência aos materiais. Entretanto, nas últimas décadas, um crescente número de estudo têm apontado problemas de saúde associados ao uso de BPA em embalagens alimentícias. Isso porque, quando aquecido as moléculas desse composto se separam e migram para o alimento, resultando em contaminação a partir dos recipientes.

Depois que o BPA é ingerido ou inalado, ele é filtrado pelo fígado por meio de um processo chamado glucuronidação, que bsicamente, adiciona uma molécula de açúcar a uma toxina. Isso torna a toxina solúvel em água, permitindo que ela passe rapidamente para fora do corpo através da urina.

Os humanos mostram variabilidade genética na sua capacidade de desintoxicar o BPA. Indivíduos geneticamente suscetíveis têm mais dificuldade em desintoxicar o sangue através deste processo, o que significa que os seus tecidos são expostos ao BPA em concentrações mais elevadas durante períodos de tempo mais longos.

O novo estudo mediu a eficiência da glicuronidação em três grupos de crianças: 66 com autismo, 46 ​​com TDAH e 37 crianças saudáveis. Os resultados mostraram que para uma proporção significativa de crianças com autismo, a capacidade de adicionar a molécula de glicose ao BPA é cerca de 10% menor do que a das crianças do grupo controle. Para uma proporção significativa de crianças com TDAH, essa capacidade é 17% menor.

“Ficamos surpresos ao descobrir que o TDAH apresenta o mesmo defeito na desintoxicação do BPA”, disse T. Peter Stein, principal autor do estudo e professor da de cirurgia da Rowan-Virtua, em comunicado.

Segundo o autor, o comprometimento na eliminação desses poluentes ambientais é “a primeira evidência bioquímica sólida de qual é a ligação entre o BPA e o desenvolvimento do autismo ou TDAH”. No entanto, mais pesquisas são necessárias para determinar se o autismo e o TDAH são desenvolvidos no útero através do aumento da exposição da mãe ou da criança em algum momento após o nascimento.

É provável que haja outros fatores por trás do desenvolvimento do autismo e do TDAH. A incapacidade de eliminar eficazmente estas substâncias químicas do sangue não está presente em todas as crianças com perturbações do neurodesenvolvimento, mas a eliminação comprometida do BPA é uma "via importante, caso contrário não teria sido tão facilmente detectável num estudo de tamanho moderado", disse o pesquisador.


Fonte: O GLOBO