Maioria da população não acha certo agentes de segurança estarem ingerindo bebida alcoólica em aglomerações portando arma. Pesquisa foi feita pela Promotoria Especializada de Tutela do Direito Difuso à Segurança Pública.

A morte do jovem Wesley Santos da Silva, de 20 anos, após ser atingido por um tiro disparado pelo policial penal Raimundo Nonato Veloso da Silva, gerou mais uma vez um debate sobre agentes da Segurança Pública estarem armados em festa e ingerindo bebida alcoólica.

Uma pesquisa feita pelo Ministério Público do Acre (MP-AC), por meio da Promotoria Especializada de Tutela do Direito Difuso à Segurança Pública, mostra os resultados de uma pesquisa de opinião sobre o porte de arma de fogo por agentes de Segurança Pública durante o período de folga.

O estudo, foi feito em março deste ano e ouviu 385 pessoas, sendo 206 do sexo feminino (53,6%) e 179 do sexo masculino (46,6%). Porém, só foi divulgado na última quinta-feira (10).

"A pesquisa foi solicitada pelo promotor de Justiça Rodrigo Curti, após a instauração de um procedimento preparatório em janeiro de 2023. O objetivo era obter informações sobre as medidas adotadas pelo Sistema Integrado de Segurança Pública do Estado do Acre (Sisp) em relação às regras do uso de arma de fogo por seus agentes durante folgas e licenças, em locais públicos ou privados com aglomeração de pessoas, independentemente da venda de bebidas alcoólicas", informou o MP.

Para a pesquisa, foi elaborada a seguinte pergunta: “Na sua opinião, um policial de folga pode andar armado em locais de aglomeração e consumir bebida alcoólica?”, podendo responder “Sim” ou “Não”. A maioria dos entrevistados, 96%, respondeu que Não.

Além disso, o levantamento também quis saber quais os locais onde a população considera que a combinação de porte de arma de fogo e consumo de bebida alcoólica, por parte de agentes de Segurança Pública, seja perigosa.

Os ambientes mencionados incluem baladas/boates, bares, vias públicas, festas privadas e chácaras. Para 72,2% dos participantes, todos esses locais representam uma combinação perigosa.

Segundo a Promotoria, apenas dois estados, Rio de Janeiro e Goiás, proíbem o uso de armas de fogo pela Polícia Civil e Militar durante os períodos de descanso.

Deputado quer apresentar PL

O deputado Adailton Cruz (PSB) propôs, durante discurso na Assembleia Legislativa do Acre (Aleac), ainda na quarta-feira (9), um projeto de lei para proibir que agentes de segurança pública portem armas em locais onde ocorrem festas.

O parlamentar disse ainda estar trabalhando no projeto para apresentá-lo oficialmente, mas citou um caso recente em que o jovem Wesley Santos da Silva, de 20 anos, morreu após ser baleado pelo policial penal e ex-diretor do presídio de Senador Guiomard, Raimundo Nonato Veloso da Silva Neto, durante a Expoacre.

Cruz ressaltou que a irresponsabilidade e má conduta de agentes nesses casos tem ceifado vidas.

“Eu vejo com bastante preocupação com relação aos agentes de segurança pública portarem arma em ambientes festivos. Vidas sendo perdidas por irresponsabilidade ou má conduta de um ou outro que usam as fardas da segurança pública. Nós não podemos permitir que vidas sejam ceifadas, ainda mais por aqueles que deveriam preservá-las”, destacou.

O deputado também ponderou que não faz generalizações, e diz ter orgulho da maioria dos agentes.

“Isso tem que ser coibido. Não digo isso generalizando, porque a maioria deles eu me orgulho”, afirmou.

O g1 entrou em contato com a Associação dos Militares do Acre (Ameacre), com o Sindicato dos Policiais Civis do Acre (Sinpol-AC) e a Associação dos Servidores do Sistema Penitenciário do Acre (Asspen) sobre a proposta, e não obteve retorno até esta publicação.


Raimundo Carlos Costa de Araújo, 37 anos, foi morto em 2016 por um policial — Foto: Arquivo Pessoal

Casos

No caso citado por Cruz, Wesley Santos da Silva, de 20 anos, e a namorada, Rita de Cássia, de 18 anos, foram baleados na madrugada dessa segunda (7) dentro da Expoacre. O autor dos disparos foi o policial penal e ex-diretor de presídio, Raimundo Nonato Veloso da Silva Neto.

Neto foi preso em flagrante ainda no parque de exposições, junto a um tio. Os dois foram levados para a Delegacia de Flagrantes (Defla) e o tio do policial liberado. Segundo a defesa do servidor público, o homem foi ouvido como testemunha.

Segundo a Polícia Militar do Acre (PM-AC), os tiros foram disparados por volta das 3h30 durante uma confusão dentro de um bar do parque. Rita foi atingida na perna direita, próximo à cintura, e o namorado foi ferido com dois tiros no lado direito do tórax. De acordo com o Instituto de Administração Penitenciária do Acre (Iapen), o policial penal não estava de serviço no dia, e um procedimento administrativo foi aberto.

Estudante morto

Outro caso de grande repercussão, foi a morte do estudante Rafael Frota em 2 de julho de 2016. Ele foi atingido por um tiro efetuado pelo policial federal Victor Campelo, após uma confusão em uma boate de Rio Branco.

Em janeiro deste ano, Campelo foi absolvido em juri popular, após ser acusado de homicídio contra Frota, e tentativa de homicídio contra Nelciony Patrício, um dos envolvidos na confusão.

Antes de ler a sentença, o juiz Alesson Braz, destacou que o uso da arma por agentes de segurança em boates e somado com bebida alcoólica precisa ser melhor debatido.

Vigilante morto

O vigilante Raimundo Carlos Costa de Araújo, de 37 anos, foi morto em um balneário de Rio Branco no dia 24 de julho de 2016. De acordo com a PM, em matéria publicada no g1 no dia do crime, o sargento teria chamado a esposa da vítima para dançar, gerando uma discussão e o vigilante teria reagido e dado um soco nele.

Após a briga, o homem foi alvejado com os disparos. O sargento da Polícia Militar Jorge Werston de Andrade Mendes, foi condenado pelo crime.

Fonte: G1