Pesquisadores dizem que a descoberta destaca o quanto ainda há para aprender sobre a pré-história da Terra com escavações de fósseis no subcontinente

O deserto de Thar, hoje, é uma região escaldante no estado de Rajasthan, no oeste da Índia. Mas na Era Mesozóica, era uma costa tropical ao longo do Oceano Tethys, habitada por dinossauros e criaturas marinhas. 

A última descoberta no local, datada de 167 milhões de anos atrás, foi de um grupo de dinossauros chamado dicraeosaurus, que se alimentavam de plantas com pescoços longos (embora não tão longos quanto alguns de seus parentes próximos). É o primeiro desse grupo descoberto na Índia e o mais antigo já encontrado no registro fóssil mundial.

A equipe totalmente indiana que descobriu a espécie a nomeou como Tharosaurus indicus, se referindo ao deserto de Thar e seu país de origem. Eles descreveram a descoberta no início deste mês, na revista Scientific Reports, e argumentam que ela ressalta a importância de estudar os fósseis do subcontinente indiano para entender mais amplamente a pré-história do planeta.

Uma área do deserto de Thar, no estado de Rajasthan, na Índia, onde foram encontrados fósseis de dicraeosauridaes de 167 milhões de anos — Foto: Krishna Kumar/The New York Times

Dicraeosaurus como o Tharosaurus indicus fazem parte de um grupo maior chamado saurópodes diplodocóides. Esses dinossauros são caracterizados por seus corpos e pescoços alongados. Eles são onipresentes entre os leitos fósseis do período Jurássico Médio ao Cretáceo Inferior. Eles se distinguem por espinhos na nuca e foram desenterrados na África, nas Américas e na China.

Mas nenhum desses fósseis havia sido documentado na Índia antes, disse Sunil Bajpai, paleontólogo de vertebrados do Instituto Indiano de Tecnologia Roorkee e autor do estudo. Teorias anteriores sugeriam que a região era habitada apenas pelos predecessores dos diplodocóides.

Mas o Dr. Bajpai e outros pesquisadores se perguntaram se havia mais na história. Em 2018, o Geological Survey of India e o IIT Roorkee iniciaram uma colaboração com o objetivo de explorar e escavar sistematicamente fósseis perto de Jaisalmer, uma grande cidade no deserto de Thar. Os achados iniciais incluíam tubarões hibodontes agora extintos e peixes ósseos marinhos. Então, em 2019, a escavação de fósseis de dinossauros começou, resultando na descoberta final de Tharosaurus indicus.

O dinossauro era distinto de outros de seu grupo, com depressões alongadas nas laterais dos ossos do pescoço, espinhos neurais com divisões profundas que podem ter parecido pontas para cima no pescoço e uma superfície frontal em forma de coração nos ossos da cauda. Também fornece evidências para um ponto de vista alternativo sobre o qual os saurópodes viveram no que hoje é a Índia.

— Ele representa o registro global mais antigo não apenas de dicraeosaurus, mas também de diplodocoides — destaca Debajit Datta, pesquisador de pós-doutorado em ciências da terra no IIT Roorkee e coautor do estudo.

Juntamente com outras descobertas de dinossauros primitivos como Barapasaurus e Kotasaurus do Jurássico Inferior na Índia central, a descoberta do Tharosaurus sugere fortemente que o que é hoje a Índia desempenhou um papel significativo no surgimento e diversificação dos neossaurópodes, um grupo de dinossauros vegetarianos de pescoço comprido que prosperaram como os maiores animais terrestres. Esta conclusão é ainda mais apoiada quando se considera o arranjo dos continentes durante o período Jurássico Médio, disse Datta.

Bajpai também aponta para outras descobertas que demonstraram que a massa de terra indiana foi um local importante na origem e na história evolutiva de outros grupos de vertebrados. Exemplos notáveis ​​incluem fósseis de Indohyus e Cambaytherium , que desempenharam papéis cruciais no rastreamento das origens de baleias e cavalos.

— Ainda não sabemos muito sobre a pré-história da Índia — alega Andrej Čerňanský, paleontólogo de vertebrados da Universidade Comenius em Bratislava, Eslováquia. — Descobertas como este novo fóssil são, portanto, cruciais para nossa compreensão, pois transmitem informações importantes sobre a evolução dos animais do subcontinente e sua diferente paleogeografia no passado.

Bajpai reforça que, embora a Índia possua fósseis valiosos de diferentes idades, não havia paleontólogos vertebrados suficientes para estudá-los de forma abrangente. O avanço do campo, segundo ele, é dificultado pelo acesso restrito a certos locais de fósseis por causa das operações de mineração, densa cobertura florestal, financiamento insuficiente e oportunidades de trabalho limitadas.

Mas ele disse estar otimista de que propostas federais recentes ajudariam na proteção e conservação de sítios geopatrimoniais no país, incluindo importantes sítios fósseis.


Fonte: O GLOBO