Data foi escolhida em homenagem ao jornalista e advogado Luiz Gama, falecido há 141 anos. Protesto chama atenção para assassinato de lideranças negras em todo o país, e alerta para a discussão da violência contra população negra.

A Assembleia Legislativa do Acre (Aleac), nesta quinta-feira (24), foi palco de um ato contra a violência policial e de estado contra a população negra. Em todo o país, organizações negras se reúnem para pedir o fim das mortes de lideranças e de pessoas negras em geral. Na capital acreana, o protesto ocorreu e das 8h às 12h.

A data foi escolhida em homenagem ao jornalista e advogado Luiz Gama, falecido há 141 anos. Além disso, a manifestação chama atenção para casos como o de Mãe Bernadete Pacífico, assassinada na Bahia no dia 17 de agosto.

O ato reuniu integrantes do Movimento Negro Unificado (MNU), Associação de Mulheres Negras do Acre (AMN), e União de Negras e Negros pela Igualdade (UNEGRO). Outros movimentos sociais e população em geral também participaram do evento. Um manifesto foi emitido, com a assinatura de mais de 100 entidades.

Segundo Amanda das Candongas, o ato conseguiu passar a mensagem, mas é necessário maior atenção da classe política e de governantes. Na avaliação dela, o tema não tem sido do interesse de agentes do poder público em todo o país.

“Como é um evento que está acontecendo em todo o país, em todos os estados, chama um pouco mais de atenção. Mas a gente tem um problema, que é não ter a participação dos nossos parlamentares. A gente não teve do estado, a gente não teve presença do nosso governador, a gente não teve presença dos nossos deputados, exceto pelo deputado Edvaldo Magalhães, que foi o único a participar do evento. A gente percebe que é uma temática que parece ser de interesse nem dos nossos parlamentares, nem dos nossos governantes”, afirma.


Evento lançou um manifesto com reinvindicações relacionadas a pautas raciais, assinado por mais de 100 entidades. — Foto: Valéria Santana/Arquivo pessoal

Realidade no Acre

Amanda também considera que atos como esse e a discussão da pauta são necessários no estado. Ela vê um crescimento da violência racial, e faz um alerta para que a discussão encontre soluções.

“O Acre é um estado que tem mais de setenta por cento da sua população de pessoas que se autodeclaram negras, pretas ou pardas. A gente pede justiça, é de suma importância. A gente pediu um plano nacional de reparação para as famílias vítimas do estado, de reparação de seus territórios. É de suma importância. A gente está tendo aqui no Acre a violência aumentando cada vez mais. A gente está tendo matanças acontecendo por aí.

E quem mais morre é a população negra. Se a gente tem a polícia, por exemplo, com câmeras nos uniformes, a gente está protegendo não só o cidadão, que muitas vezes é vítima de violência policial, mas a gente está protegendo também o nosso policial. A gente protege o policial contra acusações falsas também, por exemplo. Aqui no Acre, a violência está descambando para uma matança generalizada”, alerta.

Além da questão racial, o movimento considera que o preconceito de classes tem levado à segregação social, que também atinge moradores das periferias, e a população carcerária. Amanda cita o caso da rebelião no presídio Antonio Amaro, em Rio Branco, no fim de julho, e a reintegração de posse no bairro Irineu Serra.

“A gente viu que o que ocorreu no presídio, a gente viu o que ocorreu na ocupação lá do Irineu Serra. A forma truculenta como as pessoas, que a população é tratada por esses servidores públicos que são os policiais. É uma forma desumana. A desmilitarização das polícias é uma das nossas pautas também. Desmilitarização não é acabar com a polícia, a gente não quer acabar com a polícia, a gente quer humanizar a polícia.

Uma polícia militar age como se estivesse no meio de uma guerra. Ela sai atirando, mata criança é um dano colateral, a morte de uma criança, a morte de um inocente. Então, é importante a gente começar essa discussão aqui no estado” acrescenta.

Fonte: G1