Presidente fez declarações públicas sobre passagens mais baratas para determinados públicos, fechamento de clubes de tiro e descontos para a linha branca

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem puxado para si a divulgação de medidas que o governo pretende implementar, mas, com frequência, seus anúncios pegam de surpresa até os ministros responsáveis por botar de pé os projetos propagandeados pelo chefe. Em alguns casos, as declarações do petista contrariam acordos feitos com os próprios titulares das pastas. Os episódios têm se concentrado nas suas lives semanais.

Ontem, Lula afirmou que o Ministério do Turismo vai apresentar um programa para baratear os preços de passagens para aposentados, trabalhadoras domésticas e outros grupos. O novo chefe da pasta, Celso Sabino, assumiu há apenas duas semanas. Questionado, o ministério informou que esse programa mencionado pelo presidente é uma ramificação do projeto “Voa Brasil” e que há alternativas em estudo para baratear diárias em hotéis também, em uma iniciativa ainda incipiente.

Na semana passada, também na live, Lula disse ter a intenção de fechar todos os clubes de tiro que não são destinados a policiais ou às Forças Armadas:

— Eu não acho que um empresário que tem um lugar para praticar tiro é um empresário. Eu já disse para o Flávio Dino: nós temos que fechar quase todos (os clubes de tiro), só deixar aberto aqueles que são da PM, do Exército ou da Polícia Civil. Nós não estamos preparando uma revolução. Eles tentaram preparar um golpe.

O ministro da Justiça, Flávio Dino, havia afirmado, na semana anterior, que o objetivo — definido por Lula, segundo ele — era justamente manter esse tipo de estabelecimento aberto.

— A orientação do presidente foi de que não é para fechar o negócio (de armas), tanto que os clubes de tiro vão continuar existindo, as lojas de armas vão continuar — afirmou Dino.

No dia seguinte, o governo apresentou um decreto com o objetivo de restringir a circulação de armas no país. Em relação aos clubes de tiro, houve a proibição de que tais casas funcionem 24 horas por dia. E a fiscalização ao funcionamento dos clubes passará do Exército para a Polícia Federal.

O GLOBO apurou que, apesar da declaração de de Lula em favor dos fechamentos, o Ministério da Justiça não deve apresentar novas medidas. Um dos caminhos apontados para seguir a diretriz determinada pelo presidente se daria por meio do aperto na fiscalização para fechar clubes que apresentem irregularidades.

“Segundo diretriz estabelecida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Polícia Federal vai intensificar a fiscalização para atender à nova legislação. Os estabelecimentos que não estão cumprindo a lei serão fechados”, informou o Ministério da Justiça, ao ser questionado sobre a declaração de Lula.

No mês passado, o presidente sugeriu publicamente ao vice-presidente, Geraldo Alckmin, que é ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, a criação de um programa de incentivo à compra de eletrodomésticos da chamada linha branca, como televisão, geladeira e máquina de lavar roupas.

— Falei para o Alckmin: ‘Que tal a gente fazer uma ‘aberturazinha’ para a linha branca?’ Facilitar a compra de geladeira, de televisão, de máquina de lavar roupa. As pessoas, de quando em quando, precisam trocar os seus utensílios domésticos — disse Lula, durante um evento em homenagem ao Dia da Ciência, realizado no Palácio do Planalto.

Dias depois, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, responsável por coordenar as iniciativas que envolvam mais de uma pasta, admitiu, em entrevista ao GLOBO, que não existia “no governo nenhum projeto tratando da linha branca, não há nenhum projeto no sistema que a Casa Civil participa, pelo menos, sendo discutido de incentivo a linha branca”.

Em março, durante a segunda reunião ministerial, Lula havia dado um puxão de orelha nos titulares das pastas ao afirmar que nenhuma ideia, que ele chamou de “genialidade”, poderia ser anunciada publicamente antes de ser discutida dentro do governo.

Os ministérios da Fazenda e do Planejamento já haviam sido pegos de surpresa quando Lula anunciou a redução de impostos para facilitar a venda de carros populares. As duas pastas não participaram da elaboração do programa e foram obrigadas a fazer às pressas os cálculos dos custos da redução de IPI e PIS/Cofins.

Em sua live “Conversa com o presidente”, o presidente acaba fazendo uma espécie de despacho pelas redes sociais e pegando alguns ministros de surpresa.

Há três semanas, por exemplo, o petista falou que teria uma reunião para discutir as filas do INSS sem que o ministro responsável pelo tema, Carlos Lupi (Previdência), tivesse sido comunicado. O encontro só foi marcado no dia seguinte.

Pegos no contrapé
  • Caso Pochmann: No caso da indicação de Marcio Pochmann para presidir o IBGE, que teve repercussão negativa, Lula disse que a ministra do Planejamento, Simone Tebet, já sabia de seu desejo “há muito tempo” e elogiou o currículo do economista, ligado ao PT. O IBGE é subordinado ao Ministério do Planejamento. Na semana passada, Tebet tentou minimizar o desconforto com a escolha, mas deixou claro que o nome foi uma surpresa.
  • Baratear passagens: Lula afirmou ontem que o Ministério do Turismo vai apresentar um programa para baratear os preços de passagens para aposentados e trabalhadoras domésticas. O novo ministro da pasta, Celso Sabino, assumiu há apenas duas semanas. Questionado, o ministério informou que o programa mencionado por Lula é uma ramificação do projeto “Voa Brasil” e que há alternativas em estudo para baratear diárias em hotéis também, em uma iniciativa ainda incipiente.
  • Clubes de tiro: Na semana passada, em sua live, o presidente disse ter a intenção de fechar os clubes de tiro que não são destinados a policiais ou às Forças Armadas. O ministro da Justiça, Flávio Dino, havia afirmado, na semana anterior, que o objetivo, definido por Lula, era justamente manter esse tipo de estabelecimento aberto.
  • Linha branca: No mês passado, Lula sugeriu publicamente ao vice-presidente, Geraldo Alckmin, que é ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, a criação de um programa de incentivo à compra de eletrodomésticos da chamada linha branca, como televisão, geladeira e máquina de lavar roupas. Dias depois, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, admitiuque não existia “no governo nenhum projeto tratando da linha branca".
  • Carros com desconto: Os ministérios da Fazenda e do Planejamento foram pegos de surpresa quando Lula anunciou a redução de impostos para facilitar a venda de carros populares. As duas pastas não participaram da elaboração do programa e foram obrigadas a fazer às pressas os cálculos dos custos da redução de IPI e PIS/Cofins.
  • Filas do INSS: Há três semanas, o petista falou em sua live que teria uma reunião para discutir as filas do INSS sem que o ministro responsável pelo tema, Carlos Lupi (Previdência), tivesse sido comunicado. O encontro só foi marcado no dia seguinte.
(Colaborou Renan Monteiro)


Fonte: O GLOBO