Promotores federais notificaram advogados do ex-presidente de que a investigação não se limitava mais a seus colaboradores mais próximos, mas diretamente a ele

O ex-presidente americano Donald Trump foi informado pela Justiça federal dos Estados Unidos que está sendo investigado pessoalmente pela gestão de arquivos sigilosos da Casa Branca, um novo desafio para o ex-presidente dos Estados Unidos, que aspira a um novo mandato em 2024. 

De acordo com vários veículos da imprensa dos Estados Unidos, incluindo The New York Times e CNN, os promotores federais notificaram os advogados do ex-presidente de que a investigação não se limitava mais a seus colaboradores mais próximos, mas se dirigia diretamente a ele.

Os promotores o acusam de ter guardado caixas inteiras de documentos, incluindo alguns classificados como "ultrassecretos" após sua saída de Washington em 2021, e de ter se recusado a devolvê-los, violando as leis federais.

Notificar um possível réu de que ele é alvo é uma maneira formal de indicar que a pessoa é o foco direto de uma investigação criminal e muitas vezes precede a apresentação de acusações. A notificação normalmente abre as portas para os advogados de defesa solicitarem uma reunião com os promotores para apresentar seu lado da história.

A imprensa americana não especifica quando o ex-presidente foi informado, mas três de seus advogados se reuniram na segunda-feira por quase duas horas com o promotor especial Jack Smith, encarregado de supervisionar de forma independente a investigação, e outros funcionários do Departamento de Justiça. O encontro seria um um esforço final para evitar acusações.

Trump, que por enquanto está bem à frente dos demais candidatos na disputa interna pelo Partido Republicano, sempre se defendeu de qualquer crime e se apresenta como vítima de "perseguição política". 

"Como poderia o Departamento da Justiça me indiciar quando não fiz nada?", escreveu na sua plataforma Truth Social na segunda-feira, quando os seus advogados foram recebidos por responsáveis deste ministério.

Na quarta-feira, diversas testemunhas compareceram perante um grande júri federal em Miami, que também investiga o caso — entre eles Taylor Budowich, um dos ex-porta-vozes de Trump. Assessores e conselheiros de Trump passaram o dia em estado de tensão.

A maior parte da investigação está sendo conduzida por um grande júri em Washington, que ouviu inúmeras testemunhas nos últimos meses, incluindo alguns dos conselheiros da Casa Branca durante o governo Trump, alguns funcionários de baixo escalão de seu resort em Mar-a-Lago, além de mais de 20 membros de sua equipe de segurança que trabalhavam no Serviço Secreto.

Entenda o caso

Nos Estados Unidos, uma lei de 1978 exige que todo presidente americano transmita todas as suas cartas, e-mails e outros documentos de trabalho ao Arquivo Nacional. Outra lei, sobre espionagem, proíbe qualquer pessoa de manter documentos confidenciais em locais não autorizados e sem segurança.

Ao deixar a Presidência para se estabelecer em seu resort em Mar-a-Lago, na Flórida, Trump levou consigo caixas inteiras de documentos. Em janeiro de 2022, após vários lembretes, ele concordou em devolver 15 caixas contendo mais de 200 documentos confidenciais. Por e-mail, seus advogados garantiram que não havia outros.

A Polícia Federal, porém, afirmou que ele não havia devolvido tudo. Em agosto do ano passado, agentes do FBI fizeram buscas em Mar-a-Lago e apreenderam outras 30 caixas contendo 11 mil documentos, incluindo alguns documentos altamente confidenciais sobre o Irã e a China.

Denunciando veementemente uma operação midiática, seus advogados criticaram o FBI por publicar uma foto mostrando documentos confiscados carimbados como "Top Secret" em um tapete florido. Para reprimir as alegações de jogo sujo, o procurador-geral Merrick Garland nomeou o conselheiro especial Jack Smith para supervisionar a investigação, assim como em outra sobre o papel de Trump no ataque ao Capitólio.

Estrela pornô

Paralelamente, outro promotor especial está investigando documentos confidenciais encontrados no início do ano em um antigo escritório na casa do presidente democrata Joe Biden por seus advogados.

As constatações embaraçosas, assim como outras em uma residência do ex-vice-presidente Mike Pence, permitiram a Trump relativizar sua conduta, embora Biden sempre tenha cooperado com a Justiça, devolvendo voluntariamente os documentos.

O bilionário republicano também usou as descobertas para unir seus apoiadores em abril, quando o tribunal do estado de Nova York o acusou de falsificar documentos contábeis relacionados ao pagamento de US$ 130 (R$ 638 mil, na cotação atual) à atriz pornô Stormy Daniels antes das eleições de 2016, em troca de seu silêncio sobre uma suposta relação.

Foi a primeira vez na história dos Estados Unidos que um ex-presidente foi alvo de processo criminal.


Fonte: O GLOBO