Reencarnação do líder espiritual é tradicionalmente encontrada dentro do país, sob controle chinês desde 1959

O líder do Tibete no exílio alertou o governo chinês, nesta quarta-feira, que qualquer tentativa de Pequim de encontrar sua própria reencarnação do líder espiritual tibetano Dalai Lama pode resultar em dois sucessores diferentes e uma "dor de cabeça vitalícia" para o país. 

O atual Dalai Lama, de 87 anos, é a 14ª reencarnação do líder do budismo tibetano e quando ele morrer haverá uma busca por seu sucessor. A nova reencarnação é tradicionalmente encontrada dentro do Tibete; no entanto, com a região sob controle chinês desde 1959, houve boatos de que o próximo Dalai Lama poderia ser encontrado em outro lugar.

Penpa Tsering, presidente do governo no exílio, alertou que, se Pequim tentasse nomear sua própria reencarnação, haveria dois Dalai Lamas, durante um discurso na capital da Austrália, Canberra, nesta quarta-feira.

— Isso vai ser um problema para a vida toda. Então, o governo chinês quer uma dor de cabeça vitalícia em suas mãos ou não? É algo que o governo chinês pode ponderar.

Tsering denunciou que o Tibete é atualmente uma “enorme prisão onde ninguém pode entrar nem sair”, e refutou sugestões do governo chinês de que a região é um “paraíso socialista”.

— Se o Tibete é um paraíso socialista, então por que o governo chinês não permite que outros vejam o paraíso por si mesmos? — questionou, acrescentando que a região não tem direitos políticos ou civis.

O Tibete é uma região autônoma da China desde que o Exército Popular de Libertação invadiu o país em 1950, levando à fuga do Dalai Lama para a Índia nove anos depois. O líder espiritual tibetano e o governo no exílio estão atualmente na cidade indiana de Dharamshala.

Durante seu discurso, Tsering instou a Austrália a sancionar as autoridades chinesas por “crimes contra a Humanidade” no país, criticando Canberra por não aplicar suas punições internacionais igualmente.

A China é o maior parceiro comercial da Austrália e as relações entre Canberra e Pequim só começaram a melhorar recentemente, após a eleição de um governo trabalhista de centro-esquerda em maio de 2022. Os laços haviam se rompido em 2020, quando a China impôs barreiras comerciais a algumas exportações australianas.

— Sabemos que o governo australiano sancionou Irã, Mianmar, Rússia, mas quando se trata da China, todos se acalmam um pouco. Quando se trata de países maiores, eles se safam de tudo.


Fonte: O GLOBO