Luciano Cavalcante foi exonerado de cargo na liderança do PP quatro dias após ser alvo de operação da PF

Aliado de Arthur Lira (PP-AL), Luciano Ferreira Cavalcante foi exonerado do cargo que exercia na liderança do PP na Câmara nesta segunda-feira, quatro dias após ser alvo da Operação Hefesto. A investigação da Polícia Federal mira um esquema de desvio de dinheiro em 46 prefeituras de Alagoas através de compras superfaturadas de kits de robótica que teriam ocorrido entre 2019 e 2022.

Além de Luciano, outras pessoas próximas a Lira aparecem entre os investigados. Veja o que já se sabe sobre o caso.

O que a Operação Hefesto investiga?

De acordo com os investigadores, os kits de robótica teriam sido adquiridos com verba de emendas parlamentares do orçamento secreto, beneficiando uma única empresa fornecedora, Megalic, cujo dono, Edmar Catunda, é aliado de Lira. 

O inquérito apontou que os crimes teriam ocorrido entre 2019 e 2022, durante a realização de processos licitatórios, adesões a atas de registro de preços e celebrações contratuais relacionadas ao fornecimento dos equipamentos.

Os investigadores identificaram ainda que foram realizadas, pelos sócios da empresa fornecedora e por outros alvos, movimentações financeiras para pessoas físicas e jurídicas sem capacidade econômica e sem pertinência com o ramo de atividade de fornecimento de equipamentos de robótica, o que pode indicar a ocultação e dissimulação de bens, direitos e valores provenientes das atividades ilícitas.

Uma das suspeitas é que Luciano Cavalcante, ex-assessor de Lira, e sua mulher estão entre os possíveis beneficiários de valores desviados de contratos para compra dos materiais. O motorista de Luciano é suspeito de receber dinheiro, segundo imagens que fazem parte da investigação e foram reveladas em reportagem do Fantástico, da TV Globo, no domingo.

Dinheiro em sacolas

O motorista do ex-assessor de Lira teria relação com os operadores do esquema de desvio de verba, o casal Juliana e Pedro Salomão. Em Brasília, eles apareceram realizando "quase uma centena de saques em dinheiro" em bancos e em casas lotéricas.

Parte da quantia sacada teria sido passada por Pedro ao motorista. Os dois foram flagrados entrando juntos em um carro no dia 17 de maio deste ano, em um veículo que estava estacionado em um hotel de Brasília. Pelas imagens obtidas pela PF, o operador entrava no carro com a sacola cheia de dinheiro e saía com o recipiente esvaziado. No mesmo dia, em um novo episódio, na Asa Sul, região de Brasília, Pedro voltou a entrar no carro com o motorista.

Durante busca e apreensão realizada pela PF, conforme mostrou o Fantástico, foram encontrados R$ 150 mil e o passaporte de Luciano Cavalcante no porta-malas do motorista. Na ocasião, também foi realizada busca e apreensão em endereços do ex-assessor de Lira. Pedro e Juliana Salomão foram presos pelos agentes.

Lira não foi citado na investigação deflagrada pela Polícia Federal. À GloboNews, ele afirmou que não tem relação com o ocorrido, que atua em "defesa das emendas parlamentares que levam benefícios para todo o Brasil".

Carro de suspeito usado por Lira

Segundo revelou a Folha de S. Paulo, Arthur Lira usou na campanha eleitoral de 2022 uma picape Toyota Hilux preta que foi monitorada e flagrada por agentes da PF em uma entrega de dinheiro cuja origem seriam desvios em contratos de kits de robótica. O veículo pertence formalmente ao policial civil e empresário Murilo Sergio Juca Nogueira Júnior, um dos alvo de busca e apreensão da PF.

A reportagem mostrou que prestação de contas entregue por Lira à Justiça Eleitoral informa que Murilo lhe emprestou a picape para ser usada em sua campanha, resultando em doação estimada em R$ 4 mil.

Cofre com R$4,4 milhões

Ainda segunda a Folha, foi em um endereço ligado a Murilo que a PF encontrou um cofre lotado com ao menos R$ 4,4 milhões em dinheiro vivo. Ele teria ainda recebido R$ 550 mil do empresário Edmundo Catunda, pai do vereador e aliado de Lira em Maceió João Catunda (PSD), que esteve 11 vezes no gabinete do presidente da Câmara ao longo de 2016.


De acordo com as investigações, Edmundo Catunda é um dos proprietários da Megalic, que teria intermediado a compra de equipamentos de robótica para 43 municípios alagoanos com recursos desviados do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), ligado ao Ministério da Educação (MEC).

Prejuízo de R$ 8,1 milhões

O superfaturamento dos kits teria gerado prejuízo ao erário de pelo menos R$ 8,1 milhões. Catunda chegou a se candidatar a deputado federal pela mesma chapa de Lira nas últimas eleições. 

Segundo reportagem publicada no portal Poder 360, seu pai esteve ao menos 101 vezes na Câmara dos Deputados, em 2016. Os dados obtidos pelo site via Lei de Acesso à Informação (LAI) mostram que só há registros do destino de apenas 35 visitas, sendo que 11 foram ao gabinete do presidente da Câmara e outras nove para outros políticos do mesmo partido.


O que diz Lira

Em entrevista à GloboNews, questionado sobre a ação realizada pela Polícia Federal, Lira disse que “cada um é responsável por seu CPF neste país”:

— A gente fica mal com uma notícia como esta, mas eu não posso emitir qualquer juízo de valor sobre uma operação sem ter acesso à investigação. Posso dizer que não me sinto atingido e não tenho nada a ver com isto.


Fonte: O GLOBO