Janaina Riva (MDB) diz que fala nas redes é a favor de produtores; Estado tem o terceiro maior índice de desmatamento

Em vídeos publicados em sua rede social na última semana, a presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT), Janaina Riva (MDB), defendeu que o Ibama não destrua tratores e outras ferramentas utilizadas para infrações ambientais. 

A declaração da deputada chama atenção em meio a altas taxas de destruição das florestas em Mato Grosso, estado que registrou o terceiro maior índices de desmatamento. No ano de 2022, foi revelada uma devastação de cerca de 200 mil hectares –o equivalente a 200 mil campos de futebol–, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Nas postagens, a parlamentar pediu pela “não criminalização do produtor” ao governo federal. A deputada ainda afirmou que o estado precisa barrar as operações de fiscalização.

— As forças de segurança precisam entrar e não podem permitir o que o governo federal está fazendo no nosso estado — disse a deputada em postagem do dia 1° de maio.

Em outro vídeo, a deputada ainda exibiu uma gravação que mostra um veículo em chamas e uma mulher chorando ao ver a destruição. Janaina Riva diz que a filmagem foi exibida no plenário da Assembleia e comoveu os demais parlamentares.

A deputada cobrou a suspensão das operações do Ibama. De acordo com ela, as pessoas que tinham os veículos em posse estão sendo tratadas como criminosas:

— Nós brasileiros, especialmente mato-grossenses, não podemos deixar as coisas acontecerem como elas estão acontecendo. Começa confiscando um bem, colocando fogo em trator e caminhão. Nem traficante está sendo tratado como produtor — afirmou, em 29 de abril. 

— Esse absurdo aí é permitido por um decreto federal que o Lula assinou em 2008, que permite que se destrua qualquer equipamento utilizado para infrações ambientais. Se não houver direito à defesa e ao contraditório e, além disso, destruir o único instrumento de trabalho de uma família é um crime.

O vídeo, de acordo com Janaina Riva, era uma reflexão sobre a “inversão de valores que está acontecendo no Brasil”. Por meio da assessoria de imprensa, Janaina enviou um vídeo ao GLOBO em que a parlamentar nega as acusações de que estaria protegendo pessoas envolvidas com desmatamento.

De acordo com a deputada, a destruição dos veículos só poderia ser feita como medida extrema. Em relação o vídeo divulgado no Instagram e exibido na Assembleia do estado, a deputada respondeu que o veículo era a “única propriedade de um pai e sua família”.

A parlamentar disse ainda que a melhor forma para combater o desmatamento no estado é a regularização fundiária por parte do governo federal.

— A nossa preocupação é preservar as pessoas que, de boa fé, estão há muitos anos em sua propriedade e estão alheias à legislação ambiental e não respaldar aqueles que cometem intencionalmente crimes. Esses, sim, merecem ter seus veículos queimados e serem presos — disse a deputada ao GLOBO, destacando ainda que existe uma diferença entre quem desmata unidades de preservação sem saber e os que fazem de forma intencional.

A deputada afirmou ainda que a cultura realizada no estado perdura desde a década de 1970, quando era preciso “desmatar para ter documentação”. Ela disse para isso ser mudado é preciso “campanhas do estado e acompanhamento da Secretaria de Meio Ambiente (de Mato Grosso)”.

A presidente da Assembleia criticou também outras operações do Ibama que, segundo ela, destroem construções em áreas embargadas pelo governo federal. A deputada finalizou o vídeo defendendo que as forças de segurança de Mato Grosso entrem em confronto com os agentes de fiscalização.

Janaina Riva ainda cita as regiões nas quais as operações foram realizadas, como as regiões próximas de Juruena e Cotriguaçu, localizadas aproximadamente 900 km da capital Cuiabá. Os municípios próximos a unidades de preservação como as Terras Indígenas Escondido e Japuíra, Parque Nacional do Juruena, Parque Estadual Igarapés do Juruena, em região ameaçada por grileiros e madeireiros ilegais.

Invasão à reserva

Em meio à defesa da deputada pelo fim das ações do Ibama, a Reserva Extrativista Guariba-Roosevelt, que fica no estado de Mato Grosso, segue ameaçada de destruição por parte de invasores. Reportagem do GLOBO mostrou que esta unidade sofreu uma devastação de sete mil hectares, o equivalente a sete mil campos de futebol, em um período de 14 anos, de 2008 a 2022. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o desmatamento na unidade de conservação cresceu 720% no período.

Nesta região, também foram realizadas operações do Ibama e Força Nacional, no último mês. Na ação, um trator que era usado pelos madeireiros foi queimado pelos agentes.

Após a ação, um servidor da Funai, que preferiu não se identificar, recebeu uma ameaça de que homens iriam invadir a base do órgão no município de Colniza (MT), onde parte da reserva está localizada. A ameaça seria uma retaliação à operação realizada pelas forças de segurança. Policiais da Força Nacional foram acionados para permanecer na base e seguem no local.

O comandante da Força Nacional Antônio Ilton Varela afirmou que, na madrugada do dia 26 de abril, homens chegaram em caminhonetes e motocicletas e se posicionaram em frente à base Kawahiva do Rio Pardo, da Funai. “A situação permanece tensa na região, com ameaça real para a Base da Funai e os servidores públicos que estão no local”, disse o agente em relatório enviado ao Ministério da Justiça ao qual O GLOBO teve acesso.


Fonte: O GLOBO