Ex-primeira-dama afirma que não tinha relação com ex-ajudante de ordens da Presidência preso e que joias sauditas foram 'presente que não pediu'

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro negou ter qualquer relação com o tenente-coronel Mauro Cid, mas disse que o militar pagava as contas pessoais dela porque ficava com o cartão da conta-corrente do marido, o ex-presidente Jair Bolsonaro. As declarações foram dadas em entrevista publicada nesta sexta-feira, pela revista Veja, que também ouviu Jair Bolsonaro.

Conversas interceptadas pela Polícia Federal (PF) revelaram trocas de mensagens entre o ex-ajudante de ordens da Presidência de Bolsonaro e duas assessoras de Michelle que apontam a existência de uma orientação para o pagamento em dinheiro em espécie das despesas da ex-primeira-dama. Cid foi preso este mês por suspeita de inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde.

Michelle afirmou à Veja que Mauro Cid tinha contato com assessoras dela.

— Nenhuma [relação com Mauro Cid]. O meu contato com ele se dava por meio das minhas assessoras. Ele pagava minhas contas pessoais porque era ele que ficava com o cartão da conta-corrente do meu marido. Todo o dinheiro usado pelo coronel para pagar minhas despesas foi sacado da conta pessoal do Jair, dos rendimentos dele como presidente da República. Não tem um tostão de recursos públicos. Temos os extratos para provar isso — disse ela à revista.

Questionada por que não pagava as próprias contas, Michelle disse à Veja que administrava as despesas de casa até chegar ao Alvorada, depois de o marido assumiu a Presidência. Segundo ela, como os dois tinham muitos eventos e "demanda muito grande de trabalho", optaram por deixar "tudo na planilha" e deixar o ajudante de ordens pagasse contas, como as de manicure e cabeleireiro dela.

— Antes do Jair se tornar presidente, eu administrava as contas da nossa casa. Quando chegamos no Alvorada, tinha essa figura para fazer esse trabalho. Pagar as despesas do dia a dia. A gente tinha vários eventos, uma demanda muito grande de trabalho, então a gente deixava tudo na planilha. Eu passava para a minha assessora, que passava para o Cid, que tinha acesso ao cartão pessoal. Ele sacava e pagava a manicure, ou cabeleireiro, um dinheiro para o lanche das crianças — disse.

Há suspeitas de que Cid tenha usado verba pública do Palácio do Planalto para os pagamentos “de maneira ilegal”, com “saques em espécie” e depósitos em dinheiro vivo feitos “de maneira fracionada”, uma maneira de dificultar a origem das quantias. A PF apurou que Michelle usava um cartão de crédito vinculado à conta de Rosimary Cardoso Cordeiro, assessora parlamentar no Senado e amiga de longa data da ex-primeira-dama — ambas trabalharam como assessoras de deputados na Câmara. Cid pagava a fatura do cartão em dinheiro vivo, em uma agência do Banco do Brasil dentro do Palácio do Planalto.

À revista Veja, Michelle disse que a PF nunca lhe pediu explicações sobre o caso.

— Nunca me pediram explicações. Uso esse cartão desde 2011. Eu era quebrada. Em 2007, casei com o Jair, fui para o Rio de Janeiro. Tenho três irmãos. A minha família é bem simples, e eu sempre cuidei dos meus irmãos. Na época, o limite do meu cartão de crédito era de 1 800 reais, porque eu não tinha como comprovar renda. Aí essa minha amiga ofereceu um cartão adicional na conta dela, que tinha um limite maior. Eu pagava minha parte na fatura. Tenho todos os comprovantes. Esses achismos destroem a reputação das pessoas — afirmou a ex-primeira-dama.

Joias sauditas

Na entrevista à Veja, Michelle também falou sobre o caso das joias sauditas trazidas pela comitiva presidencial da Arábia Saudita. A ex-primeira-dama foi citada pela primeira vez como uma das pessoas que receberam em mãos um dos pacotes dados de presente pelo governo saudita. O depoimento de uma servidora do Planalto contradiz a primeira-dama, que desde o estouro do escândalo nega ter conhecimento das joias.

À Veja, ela voltou a dizer que não sabia da entrada das joias no Brasil.

— O erro aconteceu no fato de a assessoria do Ministério de Minas e Energia não ter comunicado a minha assessoria, já que era um presente endereçado à primeira-dama. A gente nunca ficou sabendo disso. No final de 2022, chegou aquele kit masculino no Alvorada. Se chegou ali, já tinha passado por todo um trâmite da Presidência da República. 

Ele ficou uns três dias em cima da mesa. Nós tínhamos um aparador no qual ficavam todos os presentes que subiam da ajudância de ordem. Quando eu abri, pensei: “Não é nem a cara do Jair. Abotoadora, ele não usa”. Foi isso que eu fiquei sabendo das joias — disse Michell

A ex-primeira-dama disse que, se o ministério tivesse entrado em contato, "com certeza iria verificar os trâmites legais para ficar com o presente ou colocar no acervo da Presidência". Ela afirmou, ainda, que nunca viu e nem sabe qual o modelo das joias.


Fonte: O GLOBO