Republicano é investigado em 13 processos por suspeitas de fraude, lavagem de dinheiro, desvio de verbas públicas e mentir perante o Congresso

O deputado de origem brasileira George Santos, acusado de cometer fraude, lavagem de dinheiro, desvio de verbas públicas e mentir perante o Congresso, entregou-se à Justiça americana nesta quarta-feira. O republicano virou alvo da imprensa e das autoridades nos Estados Unidos por construir uma rede de mentiras para ser eleito parlamentar no ano passado. 

Santos está detido, sob custódia do tribunal federal de Long Island, em Nova York, e uma audiência sobre o caso está marcada para quinta-feira.

As revelações contra Santos vieram à tona após o republicano filho de brasileiros conquistar uma vitória decisiva nas eleições no final do ano passado, na qual se tornou o primeiro deputado abertamente gay a vencer pelo partido e ajudou a garantir sua maioria estreita no Congresso.

Inicialmente, as denúncias apontavam que ele havia falsificado informações da sua biografia, incluindo diplomas em instituições que nunca havia estudado, mas um amplo esquema de desvio de recursos públicos e lavagem de dinheiro foi descoberto em sequência.

Ao todo, o deputado George Santos é acusado de 13 crimes, sendo sete envolvendo fraude, três de lavagem de dinheiro, um relacionado a desvio de recursos públicos e dois por mentir perante o Congresso sobre suas finanças.

A maior parte das acusações da Justiça está centrada no uso ilícito dos recursos obtidos por meio da sua empresa, que ele disse ser um fundo político, para despesas pessoais, incluindo a compra de roupas de marcas luxuosas e pagamentos de cartões de crédito.

O deputado de origem brasileira também é acusado de ter recebido US$ 24 mil (R$ 118 mil) de auxílio do governo destinado a pessoas em situação de vulnerabilidade na pandemia. O período em que ele foi beneficiado pelo subsídio é o mesmo em que afirmou receber US$ 120 mil por ano da sua empresa na Flórida.

Outra acusação do tribunal contra Santos trata de irregularidades nas declarações financeiras apresentadas ao Congresso, que também o tornaram alvo da Comissão de Ética da Câmara. A comissão também analisa se houve violação às leis federais de conflito de interesses ou indícios de atividades ilegais durante a campanha.

Com a reviravolta desta quarta-feira, Santos poderá responder em liberdade sem contrapartida ou ser obrigado a pagar fiança, cujo valor não foi revelado. O tribunal ainda pode obrigá-lo a entregar seus passaportes. Apesar dos pedidos de renúncia, ele poderá continuar suas funções como parlamentar enquanto aguarda julgamento.

O controverso deputado ainda enfrenta um processo criminal no Brasil por suposta fraude de cheques em um episódio ocorrido em 2008. Os registos do tribunal mostram que Santos gastou quase US$ 700 (cerca de R$ 3.400) utilizando um bloco de cheques roubado e um nome falso numa loja no Rio de Janeiro. Ele confessou o roubo em 2010, mas as investigações foram paralisadas quando a polícia e o Ministério Público não conseguiram localizá-lo após sua mudança para os Estados Unidos.

As finanças da campanha de Santos e seus negócios pessoais estão sob escrutínio desde que o New York Times revelou que ele havia "floreado" a maior parte de seu currículo, o que o deputado assumiu posteriormente. Desde então, o jornal noticiou curiosas omissões em seus arquivos de campanha, um fundo não registrado ligado a ele e outras irregularidades em suas finanças.

No centro do mistério está o salto repentino em sua renda, que aponta a obtenção de cerca de US$ 700 mil (R$ 3,4 milhões) durante sua campanha em 2022.

Na primeira vez que concorreu ao Congresso, em 2020, Santos declarou uma renda de US$ 55 mil (R$ 272 mil). Dois anos depois, quando disputou novamente e venceu o pleito, ele relatou um salário de US$ 750 mil (R$ 3,7 milhões) e mais de US$ 1 milhão (R$ 4,9 milhões) em dividendos de sua empresa, a Devolder Organization, com sede na Flórida, descrita como um negócio de “introdução de capital”.

Segundo declarações públicas de Santos, a sua empresa intermediou negócios entre clientes de alta renda, entre eles a transação de um suspeito iate no valor de quase US$ 20 milhões (R$ 99 milhões) pelo empresário John Ruiz. Sua esposa, Mayra Ruiz, foi uma generosa apoiadora da campanha de Santos, injetando mais de US$ 10 mil (R$ 49 mil) em recursos. 

Mais tarde, ela foi uma das primeiras a doar dinheiro a Santos depois que ele venceu a eleição.


Fonte: O GLOBO