Nova CEO da empresa diz ao GLOBO que operadora aposta em produto centrado em hospitais próprios e limite fixo em reais para o pagamento de coparticipação

Um ano depois da malsucedida tentativa de vender sua carteira de planos individuais, a Amil faz uma reviravolta e lança hoje um novo modelo de plano individual e familiar, de olho nessa lacuna de mercado. Há dez anos ela não vendia novos contratos.

A volta às vendas se dá em novo formato, pautado por cobertura regional, rede enxuta, com hospitais próprios, telemedicina, gestão de saúde, a exemplo do que é feito pelas prestadoras verticalizadas, onde se concentra atualmente a maior parte da oferta de planos individuais.

Neste primeiro momento o plano terá cobertura para quatro municípios paulistas: São Paulo, Guarulhos, Arujá e Mogi das Cruzes. A escolha se deu pela forte rede própria da Amil na região, são oito hospitais, entre eles, Vitória, Metropolitano e Paulistano. O próximo passo natural de expansão do produto, admite a empresa, seria o Rio, onde a Amil tem cinco hospitais próprios.

— Estamos começando em São Paulo, é um grande passo para a UHG (UnitedHealth Group, controladora da Amil) voltar a vender produtos individuais depois de dez anos. São Paulo era o nosso primeiro passo, mas estamos olhando os próximos em outras áreas, com foco em locais onde temos ativos. O Rio seria uma expansão natural, mas ainda não há data — afirma Aline Schellhas, CEO da Amil, destacando que foram 14 meses de estudo até o lançamento do produto.

Nos planos individuais, o reajuste é limitado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), enquanto nos coletivos o aumento se dá por negociação entre plano e empresa.

Foco nos sem carteira

Nesse novo produto, o usuário terá a sua trajetória orientada, sendo o atendimento ambulatorial feito na rede da operadora, o Amil Espaço Saúde, e por meio de parceria com amais e Hermes Pardini, ambos do Grupo Fleury. A parceria abrange consultas, exames e até pequenos procedimentos de internação de um dia. Os beneficiários ainda contarão com atendimento ilimitado por telemedicina.

— Um processo integrado, mais regional, vai nos dar habilidade de ter um desfecho clínico melhor, um engajamento melhor, uma solução mais rápida do problema. Acredito que fazer essa transição de uma rede desnecessariamente complexa para uma rede de maior acolhimento será um grande benefício para nossos usuários. E terá custos mais previsíveis, mais adequados — explica Aline.

De olho em quem não tem carteira assinada nem se enquadra como microempreendedor, público para o qual há oferta no mercado, o novo plano da Amil tem acomodação em enfermaria e quarto privativo, possibilidade de coparticipação e preços entre R$ 600 e R$ 1.400.

— Estamos com preços extremamente competitivos pela nossa qualidade e os hospitais que estamos oferecendo. Estamos focando na população que não tem vínculo empregatício, não é microempresário, esse segmento praticamente foi esquecido ou mal favorecido pela saúde suplementar — pontua Aline.

Uma das novidades do produto é o estabelecimento de um limite em reais para a coparticipação — quando o consumidor paga uma mensalidade menor, mas arca com uma parcela do valor dos procedimentos realizados. O usual no mercado é que o contrato determine um percentual do valor. No plano da Amil, o valor máximo é de R$ 25 para procedimentos e R$ 180 para internação.

— Queríamos dar tranquilidade para quem optar por esse produto com coparticipação. A coparticipação tem duas frentes, uma é mensalidade menor, a outra é trazer consciência na frequência do uso — pondera.

A executiva promete ainda atender qualquer modelo de família sem burocracia:

— Vamos atender a família contemporânea, todos os desenhos, que são muito diferentes dos de 20 anos atrás. Pai, mãe, sobrinho, tios, avós, dois homens, duas mulheres, a família contemporânea é nossa realidade hoje.

Antigos terão nova gestão


A empresa, que registrou o maior prejuízo do mercado em 2022, resultado líquido negativo de R$ 1,6 bilhão e um prejuízo operacional na casa dos R$ 3 bilhões, afirma que seu resultado negativo se concentra nos chamados planos legados, tanto os contratos anteriores à Lei de Planos de Saúde como os que foram adquiridos na expansão da empresa.

O maior desequilíbrio está na carteira individual. Não à toa, a empresa tentou negociar 340 mil contratos na virada de 2021 para 2022. O foco agora, no entanto, é tornar essa carteira sustentável.

— O foco em 2023 é o crescimento e a gestão da carteira individual. Viramos a chave, estamos focando na gestão, trazendo linhas de cuidados mais assertivas para essa carteira legada, que é uma carteira muito aberta, criada há 20 anos para uma realidade totalmente diferente da atual. De outro lado, sabemos que precisamos trazer novos beneficiários para essa carteira para dividir o risco — diz Aline, citando investimento de R$ 500 milhões em tecnologia e dados nos hospitais, em 2022, para a gestão eficiente da saúde dos clientes.

'Cadeia da saúde suplementar está quebrada’

Mineira de Araguari, Aline Schellhas é a primeira mulher a presidir a Amil em seus 45 anos de história. Ela voltou dos EUA, onde passou duas décadas, para assumir o cargo de diretora financeira da empresa, em 2020, e agora é a responsável por conduzir as conversas difíceis com fornecedores em busca da sustentabilidade do setor:

— O que nós estamos fazendo é uma conversa muito franca com os nossos fornecedores e prestadores. A cadeia da saúde suplementar está quebrada. Precisamos de um redesenho dessa cadeia de valor. No fim da cadeia tem o consumidor, com cada vez mais restrição de dinheiro. Nós estamos tentando manter a sustentabilidade da saúde suplementar.

Ela admite que em 2023 os reajustes serão mais altos que no passado, mas diz trabalhar para ter produtos com custo mais adequado em um futuro próximo. E afirma que o país tem muitas oportunidades:

— Podemos aprender com os EUA, com a UHG, que é uma gigante da saúde e conta com 100% de relacionamento com seus prestadores.

Aline diz não comentar rumores de que a Amil estaria à venda, mas pondera:

— A UHG acabou de celebrar dez anos no Brasil e, desde o começo, colocou-se como investidora a longo prazo. Acho que esse marco de trazer uma nova grade de produto, estar atendendo a um segmento da população que tem sido ignorado nos últimos anos, é um voto de confiança no Brasil, confirmando nosso médio e longo prazo aqui.


Fonte: O GLOBO