Dono da maior bancada, partido ficou fora dos ‘superblocos’ e constrói estratégia para amenizar perda de espaço, enquanto busca manter pontes com os novos grupos

 Relegado à terceira força da Câmara após a formação de dois superblocos partidários, o PL, sigla do ex-presidente Jair Bolsonaro, trabalha para não perder o protagonismo. Com 99 deputados, a legenda entende que pode se tornar uma espécie de “fiel da balança” na disputa interna da Casa. Para sair do isolamento, a ideia é lutar para exercer papel decisivo na escolha do sucessor de Arthur Lira (PP-AL) daqui a dois anos.

No horizonte dos aliados de Bolsonaro, para aumentar o poder de barganha, já é cogitada a hipótese de enterrar qualquer plano de candidatura própria. O cenário ideal seria estar posicionado para receber a melhor contrapartida, seja em cargos ou posições de destaque na estrutura do Legislativo.

Cada um dos superblocos deve ter um nome forte à sucessão. Hoje, os mais citados são Elmar Nascimento (União-BA), aliado de Lira, e Marcos Pereira (Republicanos-SP), que se afastou do deputado do PP.

Com a maior bancada eleita, o PL pretende exercer o direito às primeiras escolhas de comissões temáticas nos próximos anos. Desta forma, a aposta é que os outros partidos nunca deixarão de contemplar o PL em divisões representativas ou tenderão a ignorar os interesses da legenda bolsonarista. Por isso, indicar relatorias é uma prioridade para a legenda.

O papel de fiel da balança em 2025, contudo, pode recair sobre o governo e a aglutinação de partidos de esquerda. Hoje, as federações de PT/PCdoB/PV e PSOL/Rede somam 95 parlamentares — tamanho próximo à bancada do PL. Ou seja, a depender do cenário político e da relação do Executivo com o Congresso, os planos do PL podem ser frustrados.

Disputa com PT e centro

Em relação aos posicionamentos na arena política, o PL pretende acirrar os ânimos e adotar postura combativa tanto ao PT quanto aos partidos de centro que se aliaram a siglas de esquerda, como o PSB e o PDT. As duas siglas se juntaram ao bloco de Lira, que conta com 173 deputados.

Além do seu próprio partido e das duas legendas governistas, o PP de Lira reuniu no mesmo bloco União, PSDB, Cidadania, Avante, Patriota e Solidariedade. O primeiro a comandar o grupo é Felipe Carreras (PSB-PE), e o segundo será André Figueiredo (PDT-CE). Ambos são líderes de partidos com ministérios — o PSB tem três, e o PDT possui um.

O outro superbloco, de maioria governista, conta com 142 parlamentares e é formado por MDB, PSD, PSC, Podemos e Republicanos.

Líder do PL na Câmara, Altineu Côrtes reforça o discurso de que o PL não poderá ser “esquecido” pelos partidos de centro.

Ele reforça ainda que a legenda pode ser relevante para a votação de projetos importantes em plenário, o que deve ser ponto de atenção para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

— A formação desses grandes blocos não afeta em nada o poder obtido pelo PL ao eleger 99 deputados. Nós temos um tamanho único e os nossos posicionamentos se tornam ainda mais importantes, pela independência do partido e pela oposição que exercemos. Tudo indica que seremos os fiéis da balança, podendo decidir importantes votações, inclusive em uma eventual disputa para a presidência da Câmara — afirma.

Afinidade com todos

Oficialmente, todos os pré-candidatos à sucessão de Lira negam o pleito pelo comando e dizem que está cedo para discutir a eleição da Câmara. Nos bastidores, contudo, os bolsonaristas dizem que o presidente da Câmara precisará mantê-los em sua órbita, caso queira eleger um sucessor no desenho atual de forças.

Sobre o relacionamento com Lira e o fato de o partido ter sido alijado dos dois blocos, Altineu minimiza.

— Eu me dou bem com todos os líderes e não é diferente com o presidente Lira. Seguiremos dialogando.


Fonte: O GLOBO