Begoleã Fernandes está detido por suspeita do assassinato de Alan Lopes, em Amstedã; o investigado alegou legítima defesa e que a vítima seria canibal

A polícia holandesa informou nesta quinta-feira que o corpo de Alan Lopes - brasileiro encontrado morto esfaqueado em sua casa na cidade holandesa de Amsterdã no último domingo - está intacto. Suspeito do crime, o compatriota Begoleã Fernandes foi preso no aeroporto de Lisboa na segunda-feira. No momento da detenção, o investigado usava roupas com manchas de sangue e tinha pedaços de carne dentro da mala. 

O material orgânico foi recolhido e levado ao Laboratório de Polícia Científica de Portugal para análise e determinação se é humano ou não. Begoleã mandou áudios a amigos alegando que cometeu o crime em legítima defesa, após a vítima ter dito que seria canibal.

Procurada pelo GLOBO, a polícia holandesa afirmou que "o homem morto está com seu corpo intacto". O comunicado acrescentou que o suspeito pela morte de Lopes permanece sob custódia das autoridades portuguesas. A Polícia Judiciária de Portugal não informou o prazo para conclusão da análise do material orgânico recolhido em poder do investigado.

Begoleã, de 26 anos, confessou o crime em uma mensagem enviada a um amigo, segundo relataram ao GLOBO familiares da vítima, o também brasileiro Alan Lopes, de 21. Na mensagem, Begoleã, que residia em Amsterdã, afirma que Alan era canibal e que planejava comê-lo, tendo agido em legítima defesa.

No áudio, Begoleã, que é mineiro de Matipó, dirige-se a um outro amigo brasileiro para pedir dinheiro, com o objetivo de reunir recursos para deixar a Holanda. Nas mensagens, ele relata ter sido convidado para um churrasco na casa de Alan, mas que, por suspeitar do brasileiro, levou uma faca para o local e agiu em legítima defesa. Os áudios foram entregues para as autoridades holandesas.

Begoleã era visita frequente na casa da família de Alan, que residia em Amsterdã há sete anos com a mãe e a irmã. A vítima trabalhava em um açougue. Nas últimas semanas, Begoleã apresentava discurso paranoico e desconexo, segundo familiares da vítima, que estavam viajando na França no momento do crime.

O investigado foi preso em Lisboa ao chegar de um voo vindo da Holanda, na segunda-feira. Ele iria embarcar em outra aeronave com destino ao aeroporto de Confins, quando os agentes do SEF perceberam que ele utilizava um documento italiano falso. Posteriormente, descobriram que havia um mandado de prisão em seu nome emitido pelas autoridades holandesas.

Begoleã será submetido ao processo de extradição e pode ser enviado de volta para a Holanda, segundo o SEF. Na sua bagagem, foi encontrada uma embalagem de plástico contendo carne, da qual não foi possível determinar a origem. O material foi enviado para análise pela autoridades portuguesas.

Vizinhos ouviram briga

Kamila Lopes, irmã de Alan, disse ao GLOBO que ela e o restante da família deixaram a casa em Amsterdã no sábado pela manhã, quando partiram em viagem para Paris, na França. Horas mais tarde, Alan chamou amigos para ir visitá-lo em casa, entre eles Begoleã.

No dia seguinte, vizinhos relataram terem ouvido "barulho de briga" vindos da residência, mas afirmaram também que os sons logo cessaram. Também no domingo, Begoleã enviou uma mensagem de áudio a um outro amigo brasileiro pedindo dinheiro para deixar o país e acusando Alan de ser canibal.

Um grupo de oito amigos da dupla decidiu, então, ir até o endereço de Alan e averiguar o que estava ocorrendo. Eles tentaram arrombar a porta mas, sem sucesso, buscaram ajuda da polícia.

'Queria meu filho comigo'

A mãe de Begoleã, Carla Pimentel, fez uma publicação nas redes sociais comentando o episódio que envolve seu filho. No texto, ela lamenta pela família da vítima. "Sinto a dor pela mãe de Alan", escreveu.

Segundo Carla Pimentel, o filho teria sido vítima de "humilhações e extorsões" por parte de brasileiros que vivem na Holanda. Ela, no entanto, não especificou ao que se referia. Procurada, ela ainda não se manifestou.

"Queria meu filho comigo, e há algum tempo já havia um povo orando a meu pedido, porque eu não aguentava mais ver as humilhações e extorsões que ele vinha passando", escreveu Carla em uma postagem no Facebook. "Isto tudo não pelos holandeses, e sim por brasileiros corruptos. Infelizmente tudo aconteceu desta forma", acrescentou a mãe do suspeito.

Ainda de acordo com Carla Pimentel, Begoleã foi operado nesta terça-feira no Hospital de Santa Maria, em Lisboa. Carla explicou que Begoleã estava com "nervos da mão rompidos e ferimentos na barriga". Ele teve alta no mesmo dia, permanece detido e será submetido ao processo de extradição para a Holanda.

"Seja qual for sua sentença, ali Deus estará com ele", afirmou Carla. "Essa nota é em respeito a dezenas de pessoas que me enviaram mensagens sendo solidários conosco após verem todo esse sensacionalismo. Meu filho é trabalhador, guerreiro, honesto, gentil, leal. Infelizmente carregará essa tristeza pela vida", finalizou.


Fonte: O GLOBO