Presidente da estatal nomeou três assessores ligados à Federação Única dos Petroleiros e indicará dirigente de sindicato patronal para a Transpetro

Isolado do resto da diretoria da Petrobras, ainda remanescente do governo Jair Bolsonaro, o presidente da estatal, Jean Paul Prates, se cercou de aliados e sindicalistas na montagem de seu time de assessores.

Na equipe atualmente composta por 11 pessoas, três são vinculadas à Federação Única dos Petroleiros (FUP). Há, ainda, um ex-sócio e até um antigo colega de escola do CEO.

Prates também escolheu para comandar a Transpetro o dirigente de um sindicato patronal da indústria naval. O aceno a setores historicamente aliados ao PT reflete também uma disputa mais ampla, travada nos bastidores entre o presidente da estatal e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, pelas indicações para o Conselho de Administração da Petrobras.

Silveira foi alvo de fogo amigo dentro do governo e da militância petista por ter indicado nomes tidos como bolsonaristas ou defensores do preço de paridade internacional (PPI) para o colegiado.

A lista de conselheiros definida pelo ministro sofreu oposição interna de Prates e, publicamente, do presidente da FUP, Deyvid Bacelar.

O dirigente chegou a mandar uma mensagem para a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, dizendo que Lula perderia o controle sobre a estatal se acatasse os indicados por Silveira, como revelou o jornal O Estado de S. Paulo.

Entre os assessores de Prates ligados à FUP nomeados desde janeiro estão Danilo Ferreira Silva, dirigente da federação que já compôs o Conselho de Administração da empresa no governo Dilma Rousseff.

Há também dois pesquisadores do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), entidade vinculada à federação: Henrique Jager e Rodrigo Pimentel Ferreira Leão.

Os dois também passaram pela direção da Fundação Petrobras de Seguridade Social (Petros), o segundo maior fundo de pensão do país, como presidente e gerente de planejamento, respectivamente.

Durante a campanha presidencial, a FUP cobrou de Lula mudanças incisivas na política de preços da estatal. O petista chegou a participar de um evento da federação, no Rio, marcado por duras críticas ao PPI e promessas de “abrasileirar” os preços dos combustíveis.

A entidade ainda indicou dois dirigentes para o grupo de trabalho de Minas e Energia do gabinete de transição. No último dia 18, cobrou publicamente o presidente a “assumir o controle da Petrobras”.

Dos 11 assessores nomeados por Prates, dois foram indicados para funções temporárias, mas remuneradas, até que sejam aprovados como diretores pelo rito de compliance da estatal: Sérgio Caetano Leite, que será o CFO, e Carlos Augusto Barreto (Transformação Digital e Inovação).

Leite foi sócio de Jean Paul Prates na empresa Expetro e atuou como subsecretário do Consórcio Nordeste durante o mandato do colega como senador pelo Rio Grande do Norte. Além disso, sua esposa, Fernanda Hauptli Caetano Leite, foi assessora parlamentar de Prates no Senado.

Já Barreto, especialista na área de tecnologia e informação, foi da mesma turma de formandos de Prates no Colégio São Bento, tradicional colégio de elite do Rio, em 1985. Outro assessor nomeado é Clóvis Correa da Silva Neto, funcionário de carreira que dirigiu um parque eólico da companhia no Rio Grande do Norte, setor fortalecido pelo atual dirigente da Petrobras enquanto secretário de Energia do governo potiguar.

Completam a lista João Paulo Madruga, Pedro Henrique Bezerra e Wagner Cabral, que já foram assessores do gabinete de Prates no Senado; Maurício Tolmasquim, ex-secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia do primeiro governo Lula e Cláudio Pinho, advogado especializado no setor.

Fora do âmbito da equipe que assessora a presidência, Prates decidiu nomear Sérgio Bacci, vice-presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval), para comandar a Transpetro, dona de uma frota de 36 navios.

Bacci, que também foi diretor do Fundo de Marinha Mercante no primeiro mandato de Lula, vai passar de representante dos fornecedores a contratante desses mesmos fornecedores – sem escalas.

Procurada pela equipe da coluna para comentar a composição da equipe de Prates, a assessoria da Petrobras afirmou que “todos passaram pelas avaliações previstas pela governança e conformidade” da estatal, além de preencherem “as qualificações necessárias para o desempenho de suas funções e atividades”.


Fonte: O GLOBO