Acidente deixou pelo menos 36 mortos e dezenas de feridos, incluindo seis em estado grave; ainda não há informações sobre a causa da batida

O gerente da estação da cidade grega de Lárissa foi preso nesta quarta-feira após a colisão frontal entre dois trens que matou pelo menos 36 pessoas e deixou dezenas de feridos. Ele foi acusado de homicídio culposo e lesões corporais graves por negligência, informou a BBC. Responsável pela sinalização, o homem negou qualquer irregularidade e atribuiu o acidente a uma possível falha técnica. Segundo os bombeiros, 66 pessoas foram hospitalizadas, incluindo seis com necessidade de tratamento intensivo.

A imprensa grega afirma que este é o pior acidente ferroviário da história do país. A violência do choque foi tão intensa que as locomotivas e os vagões dianteiros foram pulverizados. De acordo com o jornal grego Proto Thema, um porta-voz do corpo de bombeiros disse que identificar as vítimas está sendo "muito difícil" porque as temperaturas ultrapassaram 1,3 mil graus no local do incêndio. Ainda não há informações sobre as possíveis causas do acidente.

— O gerente da estação, de 59 anos, foi preso — disse à AFP um porta-voz da polícia local, acrescentando que as acusações serão anunciadas em breve.

O presidente do sindicato dos maquinistas da OSE, Kostas Genidounias, chegou ao local do acidente e destacou a falta de segurança nesta linha que liga as duas principais cidades gregas.

— Toda (a sinalização) é feita manualmente. Desde o ano 2000 os sistemas não funcionam — destacou à rede Ert.

Ministro do transporte da Grécia renuncia

O ministro da Ifraestrutura e do Transporte na Grécia, Kostas Karamanlis, renunciou ao cargo após a repercussão do acidente.

"Quando algo tão trágico acontece, é impossível continuar e fingir que não aconteceu... Isso se chama responsabilidade política. Por essa razão, anuncio minha renúncia ao cargo de ministro da Infraestrutura e Transporte", afirmou em comunicado.

"É o que eu sinto como um dever de fazer, como uma marca de respeito à memória das pessoas que morreram tão injustamente, e assumindo a responsabilidade pelos erros do Estado grego e do sistema político grego ao longo da história. Do fundo do meu coração, expresso minha tristeza e meu apoio às famílias das vítimas".

Resgate continua

Um porta-voz do governo afirmou que os dois comboios circularam por "vários quilômetros" na mesma via e o procurador da Suprema Corte ordenou uma investigação.

A operadora grega Trainose foi adquirida pela italiana Ferrovie Dello Stato Italiane em 2017.

O acidente ocorreu entre Atenas e Tessalônica, quando um trem de passageiros colidiu num de carga. Os trabalhos para resgatar passageiros continuam, informou o porta-voz dos bombeiros, Vassilis Vathrakogiannis, numa entrevista coletiva.

— A maioria dos passageiros foi resgatada — disse Vathrakogiannis. — A operação para liberar as pessoas presas está em curso e acontece em condições difíceis, devido à gravidade da colisão entre os dois trens.

De acordo com as equipes de emergência, 194 passageiros foram retirados do trem.

— É uma tragédia sem precedentes — declarou o porta-voz do governo Yiannis Oikonomou.

O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, expressou condolências em uma mensagem no Twitter: "Chocado com as notícias e as imagens da colisão dos dois trens".

A tragédia aconteceu na altura da cidade de Lárissa, na região central do país pouco antes da meia-noite de quarta-feira (19h de terça-feira no horário de Brasília). As imagens mostram vagões de trem carbonizados em um emaranhado de metal e janelas quebradas. Outros vagões menos danificados tombaram e as equipes de emergência usavam escadas para tentar resgatar os sobreviventes.

'Como um terremoto'

Quase 150 bombeiros, com 40 ambulâncias, foram enviados ao local da tragédia.

— Nunca vi algo assim na minha vida. É trágico. Cinco horas depois ainda estamos encontrando corpos — afirmou um bombeiro, exausto, ao sair de uma área em que ele e sua equipe retiravam os corpos das vítimas.

Mecânicos e guindastes também foram enviados ao local para tentar retirar os escombros e levantar os vagões.

O ministro da Saúde da Grécia, Thanos Plevris, disse que "a maioria dos passageiros era estudantes" que retornavam para Tessalônica após um fim de semana prolongado na Grécia por um feriado.

— Sentimos a colisão como um grande terremoto — declarou à AFP Angelos, um passageiro de 22 anos. — Foi um pesadelo.

Uma reunião de emergência foi organizada após o acidente e o primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis seguia para o local da tragédia. O governo decretou luto nacional de três dias.

'Grande barulho'

Uma jovem, chorando, explicou ao jornal local Onlarissa que "o trem estava atrasado e parou por alguns minutos quando um grande barulho foi ouvido".

— Passamos por algo muito chocante. Não estou ferido, mas estou manchado com o sangue de outras pessoas que foram feridas ao meu lado — disse Lazos, um passageiro entrevistado pelo jornal Protothema.


Fonte: O GLOBO