Armas que faziam parte do acervo mantido por ela e Marcos Matsunaga foram apreendidas após sua prisão. Questionada sobre o motivo para o R.O, defesa ainda não se manifestou

Condenada por matar a tiro o marido, Marcos Kitano Matsunaga, há quase 11 anos, e cumprindo pena em regime aberto, Elize Matsunaga, de 41 anos, agora Elize Araújo Giacomini, registrou um boletim de ocorrência em dezembro do ano passado, na delegacia de Franca (SP), notificando a "perda ou extravio" de um Certificado de Arma de Fogo (CRAF) referente a um rifle calibre 17, como mostra um registro o qual a reportagem teve acesso. 

Na última segunda-feira (27), O GLOBO mostrou que Matsunaga pode voltar à prisão após denúncia de falsificação de documento e violação de regras do regime aberto, como o consumo de bebidas alcoólicas durante uma ida à praia.


A Polícia Civil de SP afirma, em nota, que a ocorrência citada foi encaminhada para a Central de Polícia Judiciária (CPJ) de Franca para investigação, e que a autoridade policial investiga a veracidade do documento citado por Elize, bem como qual o nome que consta no certificado da arma. "Assim que concluída, caso seja provada a situação irregular da arma, ela poderá ser apreendida pelo Poder Judiciário", acrescenta.

O GLOBO procurou a defesa de Elize para questionar sobre o motivo pelo qual ela estaria interessada em notificar o sumiço de um registro de arma, mas até a publicação da reportagem, não houve retorno. Sobre os fatos que embasam o processo que pode culminar na regressão de regime e retorno à cadeia, o advogado Luciano Santoro negou as acusações, nesta terça-feira (28), e disse que não há provas apresentadas que indiquem que sua cliente tenha cometido infrações.

Consultado pela reportagem, o promotor Luiz Marcelo Negrini, que acompanha a execução penal dos presos do regime fechado de Tremembé, onde Elize estava e para onde o processo pode voltar nos próximos dias se a Justiça de Franca entender que ela infringiu regras do regime aberto, reforçou que Matsunaga, sobretudo por ainda cumprir pena, não pode ter acesso a armas.

— Tecnicamente, não há como ela renovar esse certificado (de CAC, para porte de armas) e, obviamente, a polícia deveria ter apreendido todas as armas de posse dela, se não o fez. Se uma pessoa está em regime aberto, é claro que ela não pode portar uma arma — disse Negrini.

Para o promotor, uma explicação plausível é a de que ela tenha feito o R.O, possivelmente, para evitar o risco de que a arma seja utilizada por terceiros enquanto registrada em nome dela.

— Pode ser algo que ela tenha buscado para evitar de ter problema. Se era uma arma que estava registrada em nome dela antes e não está mais em sua posse, pode ser que ela tenha feito esse boletim de ocorrência para se salvaguardar. Mas não tenho como afirmar — acrescentou.

Antes da crise que culminou numa trama que envolve traição e assassinato, e que repercutiu em todo o país em maio de 2012, o casal Matsunaga tinha como seus hobbies prediletos a caça de animais e a coleção de armas. O acervo milionário encontrado no apartamento onde eles viviam, e que foi apreendido à época pela Polícia Civil, contava com armamentos nazistas, de gangsters e até de referência aos filmes de 007.

Elize é condenada por ter matado Marcos Matsunaga com um tiro na cabeça. Na noite do crime, ela ainda esquartejou o corpo do marido, dividiu as partes em sacos plásticos e guardou numa mala, que usou para carregar os restos mortais dele do prédio onde viviam, na capital, até uma área de mata em Cotia, na Região Metropolitana, local onde tentou ocultar o cadáver.

Hoje, pelo decreto em vigor, publicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nos primeiros dias de seu mandato, para fins de aquisição de arma de fogo de uso permitido e de emissão do CRAF, a pessoa precisa comprovar "idoneidade e inexistência de inquérito policial ou processo criminal, por meio de certidões de antecedentes criminais das Justiças Federal, Estadual, Militar e Eleitoral". O certificado é obrigatório, mesmo para quem tem registro de Colecionadores, Atiradores e Caçadores (CACs).


Fonte: O GLOBO