ONU entrou nas negociações para manter o fluxo que ajudou a aliviar a escassez de alimentos e limitar aumento de preços

Com o fim próximo de um acordo crucial que permitiu embarques de grãos ucranianos através de um bloqueio naval russo, a ONU teve que intervir para superar as diferenças e estender o pacto, que ajuda a aliviar a escassez de alimentos e a limitar os aumentos de preços. 

Mas hoje, data em que o compromisso entre Rússia e a Ucrânia terminaria, o acordo foi renovado por mais dois meses. A Rússia concordou em estender o combinado, no entanto apenas por 60 dias e não 120 como Kiev reivindicou, informou Maria Zajarova, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia.

"Estamos vendo declarações de diferentes partes, segundo as quais o acordo de grãos foi prorrogado por 120 dias", disse Maria Zajarova, citada pela agência russa Interfax. "Reiterámos várias vezes que (...) o acordo foi prorrogado por 60 dias", acrescentou ela.

Moscou disse que concordaria com uma extensão de apenas 60 dias porque suas próprias exportações de alimentos e fertilizantes estavam sendo prejudicadas por sanções. Já a Ucrânia, a Turquia e as Nações Unidas pressionaram por uma renovação de 120 dias, como foi feito em julho e com uma extensão subsequente que começou em novembro.

O acordo permite que navios que transportam grãos e fertilizantes da Ucrânia passem com segurança por águas turcas, onde são inspecionados por uma equipe conjunta de autoridades turcas, da ONU, ucranianas e russas.

Foi um raro avanço diplomático entre a Ucrânia e a Rússia desde a invasão da Rússia em fevereiro de 2022, mas a Rússia manteve o acordo como refém em vários pontos durante a guerra. No final de outubro, o Kremlin suspendeu abruptamente sua participação no acordo após um ataque a seus navios de guerra no porto de Sebastopol, no Mar Negro, mas voltou a aderir alguns dias depois.

Na época, o presidente Vladimir Putin disse em comentários televisionados: “A Rússia mantém o direito de deixar esses acordos se essas garantias da Ucrânia forem violadas”.

As Nações Unidas estão fazendo o possível para garantir a continuação da Iniciativa dos Grãos do Mar Negro, que negociou com a Turquia, explicou Martin Griffiths, chefe humanitário da ONU, ao Conselho de Segurança na sexta-feira, véspera do término do acordo.

“As conversas estão sendo realizadas em várias permutações em vários níveis”, disse o porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric.

O Mar Negro tem sido um ponto crítico de importância estratégica onde a poderosa frota naval da Rússia enfrenta três membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte – Turquia, Romênia e Bulgária – que compartilham a costa. 

Nesta semana, um drone de vigilância dos EUA foi derrubado após ser atingido por um caça russo, disseram autoridades americanas. Esse foi o primeiro contato físico conhecido entre os militares russos e americanos desde o início da guerra.

Na quinta-feira, os militares da Ucrânia disseram ter observado um aumento acentuado no número de navios de guerra russos no Mar Negro para 21. Eram 13 no dia anterior .

Desde que o acordo de grãos entrou em vigor no verão passado, mais de 23 milhões de toneladas de grãos foram exportados pelo corredor, estabilizando os preços dos alimentos e aliviando a escassez, segundo as Nações Unidas.

A Ucrânia é um dos principais exportadores de trigo, cevada, milho e girassol, mas seus embarques despencaram após o início da guerra. As exportações da Rússia, outro grande fornecedor, também caíram.

“Isso salva vidas”, disse Linda Thomas-Greenfield, embaixadora dos EUA na ONU, ao Conselho de Segurança na sexta-feira. “O mundo precisa desse grão. Deve fluir livremente.”

O primeiro-ministro da Ucrânia, Denys Shmyhal, chamou na sexta-feira a insistência da Rússia em um prazo mais curto para o acordo de mais uma chantagem e fomento de uma crise alimentar global".

As negociações sobre a extensão do acordo começaram na segunda-feira em Genebra. O acordo sobre a prorrogação anterior, em novembro, foi fechado com dias de folga.


Fonte: O GLOBO