País ganha 1,7 milhão de hectares de corpos aquáticos em um ano, mas continua secando nas projeções de longo prazo, sobretudo no Pantanal
No ano passado, a superfície de água do Brasil ficou 10% acima da do ano anterior e interrompeu uma sequência de dez anos de níveis preocupantes. Segundo dados do projeto MapBiomas, que mapeia a cobertura terrestre do país, em 2022 o país ganhou 1,7 milhão de hectares de área dos corpos de água doce em relação ao ano anterior.
O dado é positivo, porque reflete sobretudo a situação melhor dos reservatórios de represas de hidrelétricas e de água para consumo, mas vem com um dado de preocupação. A melhora ocorreu principalmente por causa de uma variação natural do clima: o aumento de chuvas no Norte e Centro Oeste provocado pelo efeito La Niña, o resfriamento de águas do Pacífico.
A situação melhor dos recursos hídricos, além disso, não se mostrou em todos os biomas. A água do Pantanal aumentou pela primeira vez desde 2018, mas ainda está 40% abaixo da média histórica.
Os 18,2 milhões de hectares de corpos de água doce que o país teve no ano passado representam 2% do território do país e, numa perspectiva histórica, não são tão altos. Estão apenas 1,5% acima da média desde 1985, quando há dados de satélites para medi-la.
Os dados do MapBiomas estão em linha com os da Agência Nacional de Águas (ANA) que monitora os reservatórios oficiais e relatou a melhor marca dos últimos 10 anos 3,18 milhões de hectares. Esses reservatórios são 22% da superfície de água no Brasil; os restante são rios, lagos e pequenas represas.
— O que a gente viu em 2022, porém, é fenômeno natural que não nos tira da situação de alerta, porque desde 2013 a gente viu os 10 anos mais secos da série histórica — diz o pesquisador Juliano Schirmbeck, um dos coordenadores do relatório do MapBiomas. — A gente estava em 2021 numa situação muito crítica, falando em risco de racionamento de energia e risco de fornecimento de água potável na Grande São Paulo, por exemplo.
Os dados do MapBiomas para cobertura terrestres são extraídos de fotografias de satélites do programa Lansat, da Nasa, que permitem capturar detalhes de até 30 metros de extensão no solo. Foram considerados corpos aquáticos no ano aqueles pontos que passavam pelo menos 6 meses cobertos de água.
Um dos aspectos que o novo relatório do projeto revelou é que a variação sazonal da cobertura de água doce no país e 2022 foi menor no ano anterior, quebrando o padrão registrado ao longo de uma década.
Represas
Na perspectiva histórica, o que vem acontecendo é que a superfície de água cresceu só naquelas bacias hidrográficas que abrigaram grandes represamentos.
— Enquanto no Araguaia houve perda, no Tocantins houve ganho, por exemplo porque ocorreram construções de hidrelétricas — diz Schirmback — A exceção foi no Amazonas, onde teve mudanças de ambientes naturais, como alterações de curso do rio, erosão e alargamento do leito.
2 de 2 Mapa da tendência de perda (vermelho) ou ganho (verde) de superfície de água em diferentes bacias hidrográficas no Brasil — Foto: MapBiomas
Mapa da tendência de perda (vermelho) ou ganho (verde) de superfície de água em diferentes bacias hidrográficas no Brasil — Foto: MapBiomas
Por causa das mudanças climáticas, afirma o pesquisador, existe uma preocupação de que a situação piore em locais onde a falta de água já vem sendo crítica, como na bacia do São Francisco. Quando se compara o ano de 2022 com a média histórica, afinal, ele já não parece tão bom quanto no contexto mais próximo.
"Todos os biomas perderam superfície de água entre 1985 e 2022", diz o relatório do MapBiomas. "No Pantanal, onde a retração foi de 81,7%. Em segundo lugar vem a Caatinga, que já é o bioma mais seco do país e que perdeu quase um quinto de sua superfície de água (19,1%). Mata Atlântica (-5,7%), Amazônia (-5,5%), Pampa (-3,6%) e Cerrado (-2,6%) também ficaram mais secos."
Fonte: O GLOBO
0 Comentários