Manifestações acontecem após governo apresentar reforma que cria sistema universal de Saúde e convocar passeata em seu própria apoio; opositores veem comunismo

Milhares de pessoas foram às ruas em ao menos 12 cidades da Colômbia nesta quarta-feira em marchas convocadas pela direita contra o governo de esquerda do presidente Gustavo Petro. As pautas são em oposição a todas as propostas do governo, como as reformas da saúde, trabalhista e previdenciária, e também a transição energética e a recém-apresentada reforma da Justiça. 

Grande parte dos manifestantes promove críticas baseadas em teorias da conspiração, em um sinal de desinformação generalizada, defendendo por exemplo as teses de que o governo pretende instituir o comunismo e legalizar o incesto.

"Não, não, e não, uma ditadura cubana, não", é um dos gritos mais frequentes na manifestação em Bogotá. A proposta de paz do governo com o Exército de Libertação Nacional (ELN) é chamada de “impunidade total”. Embora às vezes haja palavras de ordem em apoio a alguns partidos ou políticos de direita ("viva o Centro Democrático", dizia uma faixa em apoio ao partido fundado pelo ex-presidente conservador Álvaro Uribe), a maioria dos cidadãos presentes foi convocada a partir de convites individuais e não por um partido ou sindicato.

Andrea Garzón, uma das manifestantes em Bogotá, coletava assinaturas para convocar um referendo contra o aborto. A interrupção da gravidez foi legalizada na Colômbia no início do ano passado.

— A oposição acredita na dignidade das pessoas desde a concepção — disse a ativista, que já trabalhou com a senadora Paloma Valencia, do Centro Democrático. — Eles permitem que crianças de 14 anos decidam sem os pais. Dizem que querem o poder mundial da vida, mas promovem o assassinato de bebês no útero.

Adriana Rodríguez é cubano-colombiana e mora em Bogotá há 30 anos. Ele se juntou aos protestos contra o governo de Petro com uma bandeira cubana com os dizeres "Liberdade para os presos políticos" e uma camiseta com os dizeres "Pátria e Vida", lema da oposição à ditadura cubana.

Ela denuncia que Petro quer imitar "o modelo repressivo cubano" e critica uma visita recente a Cuba da vice-presidente colombiana, Francia Márquez.

— Ela diz que Cuba é uma potência médica. Não, senhor. Incomoda-me que repliquem mentiras. É meu dever alertar os colombianos — disse ela.

A Polícia Nacional confirmou que até agora foram realizadas ao menos 14 comícios e nove marchas ao redor do país. O órgão estima o total de presentes em 47 mil.

Proposta de reforma da Saúde

As marchas acontecem um dia após passeatas a favor do governo, convocadas por sindicatos de professores e da Central Unitária dos Trabalhadores e dois dias após o presidente apresentar ante o Congresso uma proposta de reforma da Saúde.

A reforma, que acontece após uma reforma tributária em novembro, propõe a criação de um sistema universal de saúde no país, diferente do formato atual, que o presidente classifica como sendo "um negócio".

A reforma tem o objetivo de criar milhares de centros de atenção primária — públicos, privados e mistos — em todo o país e também fala de um processo de transição gradual e ordenada para um novo modelo.

Petro declarou que esse projeto terá como pilares fundamentais levar saúde a todos os territórios e poder estabelecer uma atenção primária à saúde forte. Ele também mencionou que, se o projeto for aprovado pelo Congresso, as lacunas de atendimento que existem entre diferentes partes do país serão fechadas.

A reforma tira poder das chamadas Entidades de Promoção da Saúde (EPS), às quais no atual sistema os colombianos se filiam com o objetivo de administrar os recursos para garantir sua saúde. Esses recursos somam cerca de 60 trilhões de pesos colombianos anuais, o equivalente a cerca de R$ 66 bilhões.

Segundo uma pesquisa realizada pela empresa Invamer, 58% dos consultados consideram que o sistema de saúde deveria ter alguns ajustes, enquanto 32% acham que deveria ser totalmente alterado e 9% acreditam que deveria permanecer como está.

O trâmite parlamentar da reforma da Saúde promete ser difícil. Embora o Executivo pretenda dar ao projeto um caráter ordinário, muitos no Congresso advertem que ele exige mudanças constitucionais, por tocar no direito fundamental à Saúde. Se o governo insistir num trâmite ordinário, a Corte Constitucional, mais alto tribunal do país, pode vir a derrubar a lei, no que constituiria uma pesada derrota para o governo.


Fonte: O GLOBO