Lojas virtuais usam embalagens que imitam estufas e papel molhado na terra para entregar arranjos vivos e saudáveis

O confinamento forçado pela pandemia ampliou o interesse por plantas, mas os entusiastas do verde em casa não precisam mais ir a hortos e mercados para escolher a próxima muda.

Plataformas on-line descobriram o filão dos cada vez mais numerosos “pais” de plantas e passaram a vender vasos plantados — de pequenas suculentas a espécies ornamentais — pela internet, com entrega em domicílio. Mas os anúncios nas redes sociais deixam consumidores com a pulga atrás da orelha: como plantas podem chegar vivas e intactas por delivery?

A resposta está em técnicas de embalagem engenhosas, como papel molhado cobrindo a terra dos vasos ou embrulhos especiais que reproduzem uma estufa, que estão na base de uma vertente crescente no comércio eletrônico, embora ainda haja resistências.

Segundo empresários do ramo, assim como cresce o número de lares com animais domésticos, os brasileiros são entusiastas das plantas, que dão menos trabalho que um pet e ajudam na decoração.

O consultor de TI Vitor Soares, de 33 anos, que mora em São Paulo, aderiu à tendência por influência da mãe, com quem aprendeu a cuidar de plantas. Ganhou os primeiros exemplares dela e um dia, precisando de terra para completar um vaso, chegou a uma loja on-line que também vendia vasos plantados. Resolveu experimentar e ficou surpreso ao receber uma planta saudável como a da foto no site.

— Aproveitei a indicação e comprei um Lírio da Paz. O lugar atende pelo site e WhatsApp. O fato de não precisar carregar peso chamou minha atenção. Além disso, a loja também costuma dar brindes, como mudas ou suculentas — diz Soares, que virou freguês.

— Há lojas físicas mais em conta, mas quem não tem carro precisa carregar na mão. A loja em que eu comprei fica em São Paulo mesmo. Eles entregam a planta embalada em uma caixa. Levou três ou quatro dias para chegar, mas a terra ainda estava úmida.

Inspiração nos EUA

O dinamarquês Jens Lachenmeier, de 55 anos (20 deles morando no Brasil), está por trás de uma dessas lojas on-line. Inspirado por iniciativas que conheceu nos EUA, ele fundou a Nordic Green, que começou a operar na internet em maio de 2022, em São Paulo. No fim do ano, ele passou a enviar plantas para qualquer lugar do Brasil.

— Na pandemia, a procura por plantas cresceu muito. As pessoas estavam em casa, queriam dar vida ao ambiente. Eu sabia que plantas on-line já eram um nicho de mercado lá fora, e comecei a procurar empresas semelhantes no Brasil. Não achei quase nada.

Para o delivery na própria capital paulista, a Nordic Green conta com uma empresa terceirizada que, muitas vezes, entrega no mesmo dia da compra. Para distâncias maiores, as entregas são feitas por uma empresa de logística contratada, mas Lachenmeier conta que já despachou muitas plantas pelos Correios. Só buscou uma alternativa para baixar o custo e o tempo de entrega.

— Compramos as plantas em São Paulo ou em Holambra (interior paulista). Trocamos o vaso e colocamos uma camada de papel molhado sobre a terra para dar umidade, o que serve também para que ela não caia no trajeto. Temos uma caixa de papelão especial que segura a planta, com suporte — diz Lachenmeier.

O empresário conta que prefere destinar as plantas mais “fresquinhas” para as distâncias mais longas. Entregas no Sudeste, por exemplo, demoram de três a cinco dias. Para a Bahia, de oito a dez.

Mateus Serafim, diretor comercial da Plantiê, outra varejista do gênero, usa estratégia distinta de conservação, que consiste em criar uma “miniestufa” em volta do vaso. A empresa, que fica sediada em Caxias do Sul (RS) também costuma comprar peças em Holambra e transporta tudo até a cidade gaúcha de caminhão.

As folhas chegam um pouco secas. Por isso todas as plantas passam por um processo de recuperação, com cuidados como adubagem e rega programadas, até ficarem disponíveis para a venda on-line e uma nova viagem, que pode ser para qualquer cidade do país.

— Depois que a planta fica forte, recuperada e hidratada, molhamos bem o substrato e fazemos uma espécie de “miniestufa”. Fechamos a planta em um saquinho plástico com um pouco de ar dentro. Assim, a umidade não evapora, e o ar circula enquanto ele estiver fechado — descreve o executivo.

Consumidor ressabiado

O passo seguinte é amarrar bem o vaso na caixa de papelão, com enchimentos que evitam que a peça se desloque, e enviar. Geralmente, os clientes compram a planta com o vaso autoirrigável criado e patenteado pela Plantiê em 2017. No início, a empresa também usava os Correios, mas as plantas passavam muito tempo dentro dos caminhões e centros distribuidores quentes. Então, a empresa buscou opções para garantir a integridade da planta.

— Optamos por transportadoras com entrega ágil. Se for para outro estado, a planta costuma ir de avião. Já entregamos no Pará, a mais de 3 mil quilômetros do Rio Grande do Sul. A planta vai para São Paulo e depois para Belém, onde um coletor retira e completa a entrega ao consumidor. Demora de quatro a cinco dias. Pela via rodoviária, são oito a dez dias — diz Serafim.


Mas, apesar de todas as inovações, muita gente pensa duas vezes antes de encomendar, ainda mais porque os preços embutem os custos da entrega. Como a maioria desconhece as técnicas de conservação para longas distâncias, Lachenmeier, da Nordic Green, resolveu oferecer garantia de 30 dias e troca:

— As pessoas têm medo das plantas chegarem mortas.

Serafim concorda que esse é o principal desafio do negócio:

— Os mais velhos fazem questão de ver a planta. O público jovem gosta de comprar pela internet, mas ainda prefere a experiência presencial. As próximas gerações devem mudar isso. O desafio é garantir a segurança ao cliente, porque ele está comprando uma coisa viva, que pode se deteriorar.

Além da comodidade, a vantagem da loja virtual é o acesso a espécies diferentes ou fora de estação. Sempre tem as “queridinhas” do momento.

— A Begonia maculata, por exemplo, ganhou fama no ano passado. Quando era escassa, a muda custava R$ 220. Hoje, dá para comprar por R$ 30 — diz o diretor.


Fonte: O GLOBO