Assim como o antigo mandatário dos Estados Unidos, Bolsonaro abriu uma loja on-line

Assim como em todo o seu mandato e após a derrota nas urnas em outubro passado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se alinhou, mais uma vez, ao ex-presidente americano Donald Trump. 

A "Bolsonaro Store", lançada nas redes sociais pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), vende calendário 2023 com fotos do governo passado, caneca e tábua de carne. Os produtos têm grafado o nome do ex-presidente ou o slogan "Nosso sonho segue mais vivo do que nunca".

O novo empreendimento é uma cópia da Trump Store, loja on-line na qual o ex-presidente americano vende chocolates, bonés, formas de gelo, além de lembranças de sua passagem pela Casa Branca.

O site está registrado em nome da empresa de cursos de Eduardo, cujos titulares são o próprio deputado e sua mulher, Heloísa Bolsonaro. O texto de apresentação afirma que a loja surgiu para “manter vivo na memória boa parte dos feitos do presidente Bolsonaro”.

De acordo com Eduardo Bolsonaro, o item mais cobiçado da versão brasileira é um calendário com fotos do pai durante sua estadia no Palácio do Planalto.

"Quem conhece o passado consegue enxergar melhor o futuro. E é pra manter vivo na sua memória os bons trabalhos do presidente Jair Bolsonaro que eu te convido a conhecer o calendário da Bolsonaro Store", diz o deputado em vídeo no Instagram.

De acordo o doutor em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)Michel Gherman, a iniciativa é uma "tentativa de vira-latismo, de reproduzir o trumpismo na vitória e na derrota". Para ele, o calendário com fotos do governo Bolsonaro acende um alerta:

— É uma tentativa de construir uma temporalidade bolsonarista. Não é o 7 de setembro, nem o 15 de novembro, mas referências que ocorrem em um contexto alternativo. É um convite, aos eleitores, para abrir mão da realidade concreta e investir no ressentimento. Uma ideia de que a derrota não ocorreu — explica.

Estratégia essa que também é usada por Trump que, no ano passado, chegou a sugerir que a única maneira de anular as eleições de 2020 seria o fim da Constituição. Ambos não reconheceram a derrota para os adversários nas urnas — Joe Biden e Lula, respectivamente — e exilaram-se na Flórida.

Quatro anos de alinhamento

Ao longo de todo o seu mandato, Bolsonaro e sua base sempre replicaram as atitudes de Trump. Assim como o norte-americano, Bolsonaro já chegou ao poder semeando dúvidas sobre o sistema das urnas eletrônicas. Um ano após a posse, o então presidente afirmou "ter provas" de que teria sido eleito no primeiro turno das eleições de 2018, mas nunca apresentou nenhum comprovação.

Com o passar dos anos, Bolsonaro e Trump alastraram o movimento por suas bases de apoio e encontraram reverberação na Câmara dos Deputados. O incômodo se tornou popular, e às vésperas das eleições, os agora ex-presidentes convocaram apoiadores para fiscalizarem o pleito.

— Estou pedindo aos meus apoiadores que compareçam aos locais de votação, observem com muita atenção. Se for uma eleição justa, estou 100% a favor. Mas se vejo dezenas de milhares de cédulas sendo manipuladas, não posso concordar — disse Trump em debate contra Biden em frase que foi repetida quase que na íntegra por Bolsonaro ao longo de todo o período eleitoral.

Trump e Bolsonaro combinaram até na derrota e, desde então, recusaram-se a aceitar o resultado das eleições. Na madrugada seguinte às eleições americanas, Trump disse que teria tido fraude na disputa. Mais contido, Bolsonaro demorou 45 horas para se manifestar, mas também não reconheceu a vitória de Lula.

A atitude se manteve até a posse, quando os dois, inclusive, romperam com a tradição e não passaram a faixa para seus sucessores. Nos Estados Unidos, Trump foi o primeiro em 150 anos, enquanto Bolsonaro foi o único após a redemocratização.

Como resultado da tensão pós-eleitoral, os ânimos se exaltaram nos dois países. A invasão ao Capitólio no dia 6 de janeiro de 2021 ganhou uma versão brasileira ainda mais violenta. No dia 8 de janeiro, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes em Brasília.

Publicamente, Jair Bolsonaro e Donald Trump também não parecem se incomodar com as semelhanças entre os dois. Muito pelo contrário, em diversas ocasiões, um teceu elogios ao outro. Em 2022, o americano fez uma postagem de apoio à reeleição de Bolsonaro em sua própria rede social, a Truth Social, na qual o chamou de "Trump Tropical".


Fonte: O GLOBO