Ismael Tavares da Costa foi preso na operação Boi de Ouro e é suspeito de chefiar quadrilha. A decisão é da juíza Kamylla Acioli Lins e Silva

O advogado Ismael Tavares da Costa, preso na última sexta-feira (10) na operação “Boi de Ouro”, da Polícia Civil, teve a prisão temporária convertida em preventiva. A decisão é da juíza Kamylla Acioli Lins e Silva, da Vara Única de Acrelândia, no interior do Acre. Na decisão, a magistrada também converte em prisão preventiva as detenções de outros 10 presos, além de conceder liberdade provisória a outros dois.

Entre os que passaram à prisão preventiva, além do advogado, estão:

  • Aldair Francisco Batista Campos, dono de veículos que transportariam o gado roubado;
  • Paulo Sérgio Batista, apontado como sócio ;
  • Marcos Antônio Batista, apontado como sócio;
  • Luiz Gustavo do Nascimento, apontado como comparsa de um dos envolvidos;
  • Douglas Cristo Brizola, apontado como sócio;
  • Rodrigo Belo da Silva, apontado como autor de furtos;
  • Paulo Ferreira da Silva, apontado como integrante do grupo criminoso;
  • Francisco Pereira de Souza, apontado como integrante do grupo criminoso;
  • André Luiz Batista Severino, apontado como autor de furtos;
  • Ronilson Alves, apontado como dono de terreno onde os animais furtados seriam depositados;
Os investigados Diego Silva Macedo e Gilvane de Oliveira tiveram a liberdade provisória concedida, com medidas cautelares no caso deste último. Ele foi proibido de deixar a comarca por mais de 8 dias sem autorização prévia, entre outras medidas.

O g1 não conseguiu contato com a defesa dos investigados.

Já o advogado de Ismael Tavares, Felipe Alencar, afirma que segue trabalhando pela soltura dele. “Estamos trabalhando nos procedimentos visando a soltura de Ismael desde a sexta-feira e já apresentamos as medidas necessárias para tanto”, informou ao g1.

A juíza ressalta que a polícia conseguiu reunir elementos que reforçam as suspeitas sobre os presos, e por isso se manifestou favorável à conversão das prisões.

“Os crimes são graves, pelo menos segundo as informações colhidas até o momento, eis que causam grande prejuízo aos pecuaristas da região que tem grande importância na movimentação da economia local, sendo que a manutenção dos ilícitos sem nenhuma interferência do Estado vem gerando inquietação social e sensação de insegurança”, afirma.

O esquema funciona da seguinte forma, o grupo , segundo a denúncia, furta o gado e, ao transportar ou ser pega a carga, o Estado, que não consegue controlar muito esse transporte, acaba devolvendo esse gado ao grupo que fez o furto. Também há relatos de venda fraudulenta de GTA (Guia de Transporte Animal) para transportes irregulares de semoventes.

Como agia cada um

A Justiça lista a atuação dos envolvidos da seguinte forma:

Aldair Francisco Batista Campos é o “Pinga Banha”, apontado como sendo um dos principais responsáveis por furto de animais na região do Caquetá. Foi ele que apareceu com um GTA emitida para iludir a polícia sobre a origem lícita dos animais transportados de forma irregular pela pessoa de Geovane de Oliveira. "É uma pessoa que debocha do Estado, exibindo riquezas obtidas por meios ilícitos."

Ronilson Alves Batista é parente dos demais investigados e sua propriedade na região da Vila Caquetá é usada para depósito dos animais furtados para posterior destino. O nome dele está constantemente ligado a furtos de semoventes, segundo o processo. "Suas terras são destinos conhecidos de animais furtados ou irregulares. Ele é parente de Aldair Francisco Batista Campos, tio."

Paulo Sérgio Batista é sócio do “Pinga-Banha”, e, segundo a denúncia, vivem do furto e receptação de animais. Se é sócio desse, atua com todos os demais. Vale ressaltar que há entre eles relação de parentesco. São parentes, ele está envolvido em outro caso de furto de animais. Seu caminhão foi apreendido na propriedade de uma das vítimas retirando o gado do local. "Ficou vários dias apreendido na Delegacia de Polícia Civil de Acrelândia. Na ocasião, os animais seriam levados para a propriedade de seu irmão, a pessoa de Marcos Antônio Batista."

Marcos Antônio Batista é irmão do Paulinho Sérgio Batista e parente do Aldair Francisco Batista Campos, é suspeito de ser um dos líderes do grupo que está enriquecendo ao praticar abigeato em desfavor dos pecuaristas da região. Ele e seus familiares criminosos, possuiria um esquema de enviar animais fraudulentamente para fora do Estado do Acre. Era o destinatário dos animais subtraídos da propriedade de uma das vítimas e também estaria enriquecendo com a prática.

Luiz Gustavo do Nascimento é apontado como comparsa de Douglas Cristo Brizola e os dois estariam furtando, receptando e dando destinação para fora do Estado do Acre, a animais oriundos de abigeato. Ele diz que enviaria animais para o Estado do Amazonas, mesmo sem a obrigatória Guia de Transporte de Animais. "O."O investigado aponta membros do grupo como de má fama, mas, é sócio de um dos mais atuantes no grupo, Douglas Cristo Brizola."

Douglas Cristo Brizola é contumaz na prática do cometimento de abigeato, segundo o processo. Além de furtar, ele também dá destinação ao produto do crime. Como exemplo, no dia 23.12.2021, para tentar retirar do estado gado de forma irregular, foi a frente dos caminhões, pertencente ao grupo, para verificar se não havia fiscalização que pudesse inibir a prática nefasta do grupo. O investigado é sócio de Ronilson Alves Batista, o qual é parente de Aldair Francisco Batista Campos, Paulinho Sérgio Batista e Marcos Antônio Batista. Ele também é dado a enviar gado irregular para outras unidades federativas, como o fazia a pessoa de Luiz Gustavo do Nascimento no dia 23.12.2021. Ele confirma que Gilbertinho trabalha para ele.


Rodrigo Belo da Silva. Segundo a Justiça, ele e Antônio Fernandes Belo da Silva atuam furtando gado para o grupo. Inclusive foram eles que embarcaram o gado de uma das vítimas para a pessoa de Atacílio Peixoto de Almeida. "Foram apontados pelas pessoas de Ednaldo Ferreira Lúcio e Lucas Berto de Araújo."

Ismael Tavares da Costa - Ele atua com André Luiz Batista Severino Souza, Francisco Pereira de Souza, Ortênio Rodrigues para subtrair animais pelo Estado. Ele fala sobre a prática de abigeatos com outros envolvidos e como será a repartição do espólio criminoso. "É possível perceber que nem terminara de praticar um abigeato, já estão a planejar outro. Nesse, parece tratar-se dos animais da vítima, inclusive planejam até a repartição do proveito criminoso."

Ismael, segundo a denúncia, possuía motorista para fazer os furtos e grande parte dos animais era levada para Manoel Urbano, onde o advogado teria conexões. "Ismael Tavares da Costa passa instruções de como transportar os animais e local onde devem ser depositadas na circunscrição de Manoel Urbano, propriedade onde alguns animais foram localizados."

André Luiz Batista Severino atua com Jonatas Oliveira para subtrair o gado da vítima em Senador Guiomard. No diálogo entre ambos, é possível perceber a atuação de outros envolvidos, Ismael Tavares da Costa e Ortenio Rodrigues, sendo que eles ainda debocham da situação, dizendo que os bens obtidos com abigeatos são dados, gratuitas. O investigado possui relações estreitas com Ismael Tavares da Costa e seus asseclas. "É possível perceber que o investigado participou de vários abigeatos juntamente com Ismael Tavares e Paulo Ferreira da Silva e os demais. Eles se referem aos abigeatos como mexida e também, percebe-se que o investigado usa uma camionete para as práticas criminosas."

Paulo Ferreira da Silva trabalha diretamente com Ismael Tavares da Costa. Ele também atua com outro membro do grupo, William da Silva Gomes, vulgo Blayde. Também é possível perceber a influência de Ismael Tavares da Costa e André Luiz Batista Severino Souza sobre os demais, aliás, o primeiro é quem tem o caminhão. "Paulo Ferreira da Silva também tem relações estreitas com outro ladrão de gado, Vanderlei Zanelato Joaquim (fls. 217 a 222). Eles subtraem os animais nessa região e com a ajuda de Ismael Tavares da Costa, os distribui, ao menos, parte dos animais, na região de Manoel Urbano."

Francisco Pereira de Souza acabou sendo detido durante a ação do grupo, o que possibilitou desvendar a identidade de vários agentes responsáveis por abigeatos no Acre. "Como se percebe, é membro atuante no grupo que pratica abigeato nessa região."

Ameaças de morte

De acordo com o processo, apesar de os fatos terem ocorrido em 2021, as vítimas alegam sofrer ameaças de morte. "E ainda existem novas vítimas que estão buscando a delegacia para apontar os investigados como autores dos ilícitos, não havendo como dizer que os fatos são antigos e pretéritos, eis que ainda persistem em cometer os ilícitos em apuração, perdurando seus efeitos materiais e emocionais", destaca.

De acordo com o processo, William Gome citou que recebeu a quantia de R$ 3 mil de Israel para cometer o crime. "O grupo teria à disposição vários caminhões para transportar animais bovinos e diversas propriedades para depositar os animais furtados, sem contar que são ligados por relações de parentesco. Já teriam o histórico de estarem envolvidos em furto de animais. O grupo está escandalosamente enriquecendo à custa dos pecuaristas da região, furtando seus animais."

O documento detalha ainda que a ação do grupo é facilitada por terem domínios nos Estados do Acre, Rondônia e Amazonas e por ser possível se valer da deficitária fiscalização agropastoril da região. "No Acre, basta furtar e o Estado não souber quem é o dono dos animais, que o ladrão se torna o possuidor dos mesmos, quiçá proprietário, a pretexto de que os animais irregulares devem retornar à origem, que não rara as vezes, se identifica com os domínios do grupo criminoso."

Operação

A operação Boi de Ouro teve como alvos um advogado, pecuaristas e empresários suspeitos de integrarem uma quadrilha de furto de gado no interior do Acre. As investigações começaram há cerca de um ano e meio, e apontam que o grupo é responsável pelos crimes de formação de quadrilha, abigeato (furto de animais), lavagem de dinheiro, ameaça e enriquecimento ilícito.

O responsável pelas investigações, delegado Dione dos Anjos, informou que 15 pessoas foram presas na ação, entre elas Ismael Tavares, que seria uma das lideranças da quadrilha.

Por conta disso, a Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Acre (OAB-AC) informou que vai apurar a conduta de Ismael Tavares, que além de advogado, é membro do Conselho Seccional.

Em nota, a ordem informou que a conduta do conselheiro "será oportunamente apurada no âmbito administrativo e disciplinar, após a devida coleta de informações acerca dos fatos".

Fonte: G1/AC