Reportagem se hospedou no mesmo condomínio do ex-presidente na região de Orlando
Porto Velho, RO - Prestes a completar um mês nos Estados Unidos, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pediu ao ex-lutador José Aldo, dono da casa na região de Orlando onde está hospedado, para estender a estadia por cerca de um mês, até depois do Carnaval, segundo um amigo do atleta.
A casa, um imóvel de oito quartos em um condomínio fechado nas imediações dos parques da Disney, está disponível para aluguel em uma plataforma online por valores a partir de US$ 519 a diária (cerca de R$ 2.600, sem contar impostos e taxas que podem fazer o valor quase dobrar), mas foi cedida pelo ex-lutador, que apoiou Bolsonaro na eleição de 2022.
Reportagem da Folha na última semana apontou que, temendo o cerco legal pela Justiça no Brasil, Bolsonaro estuda opções para ficar mais tempo nos EUA e pode se financiar no país dando palestras para empresários.
A Folha se hospedou no condomínio, na cidade de Kissimmee, por três dias no começo desta semana e acompanhou a movimentação na porta da casa do ex-presidente. Ele afirmou desde o primeiro dia que não responderia às perguntas da reportagem.
Embora haja uma cancela para evitar que carros acessem o local, a entrada para pedestres é livre, o que contribuiu para o movimento constante de apoiadores na porta.
Como não há muros entre as casas, a privacidade é pouca e é possível até tocar a campainha do ex-presidente nos raros momentos em que não há um segurança na porta, como a reportagem fez na segunda-feira (23).
A família instalou uma tela para cobrir a área dos fundos, onde há uma piscina, e as cortinas da casa passam o dia fechadas. No entanto, à noite é possível ver algumas luzes acesas e, tanto na segunda quanto na terça-feira, uma televisão na sala exibia uma partida de futebol.
Bolsonaro viajou para os Estados Unidos em 30 de dezembro, antes de terminar o governo e rompendo a tradição de passar a faixa para seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Desde então, pouco mudou na rotina do ex-presidente na cidade.
No início, a novidade de sua presença e o feriado de fim de ano levaram centenas de brasileiros à porta da casa. Bolsonaro saía quase de hora em hora para cumprimentar os apoiadores, que viajavam de diferentes partes do país para vê-lo.
Como na ocasião ainda estava no cargo, teve sua segurança reforçada por agentes do serviço secreto americano, além de viaturas da segurança interna do condomínio para organizar a multidão.
Agora, após semanas na cidade, o movimento diminuiu, mas ainda assim Bolsonaro tem saído cerca de duas vezes por dia, no começo da manhã e no fim da tarde, para cumprimentar, tirar fotos e dar autógrafos ao grupo que ainda se forma em frente a casa.
Nos dias em que a reportagem esteve ali, os grupos tinham em torno de dez pessoas.
Os perfis variam. Um casal de aposentados mineiros que vive no litoral da Flórida disse que esperou a multidão diminuir e dirigiu cerca de três horas nesta semana para tentar uma foto com o ídolo.
Outra família, gaúcha, passava férias nos EUA e voltava de Atlanta para pegar um voo para o Brasil em Miami, mas decidiu desviar o caminho para tentar se encontrar com o ex-presidente. Eles não quiseram dar entrevista à reportagem.
Além das breves conversas com os apoiadores, Bolsonaro tem feito poucas aparições públicas, com exceções de eventuais idas a mercados ou lanchonetes.
Funcionários do condomínio relataram que não o viram no restaurante ou academia do local, que ficam a menos de cinco minutos da casa —onde há também um parque aquático.
Apoiadores, porém, têm convocado em redes sociais para um evento com Bolsonaro na próxima terça (31). O evento é descrito na internet como um "reencontro com a comunidade brasileira em homenagem ao ex-presidente Jair Bolsonaro", e os ingressos são vendidos por valores entre US$ 10 (entrada comum) e US$ 50 (entrada VIP).
Durante sua permanência em Orlando, ela se encontrou com amigas e foi a um culto evangélico no domingo (22), além de ter visitado um parque da Disney com as filhas.
Um dos filhos do ex-presidente, Carlos Bolsonaro, também está nos Estados Unidos, mas a Folha não o viu no condomínio no período em que esteve lá.
A casa na Flórida tem cômodos temáticos, como um quarto dos minions, e José Aldo costuma emprestá-la para celebridades, relatou em entrevista ao podcast Flow no começo do mês.
Segundo ele, a decisão de cedê-la ao ex-presidente foi uma estratégia de negócios para alugá-la mais. "A rua está lotada sempre. O que eu estou recebendo de mensagem para alugar a casa", disse.
"Todo mundo vai querer ver, esquerda ou direita. Eu quero botar uma placa lá, ‘aqui ficou o presidente tal do Brasil’", afirmou, comparando com se hospedar no mesmo quarto em que Elvis Presley ficava em Las Vegas. "Todo mundo vai querer ficar na casa porque foi o presidente."
O veículo passou por regiões frequentas por brasileiros, como um supermercado e a sede local da Igreja da Lagoinha, comandada pelo pastor bolsonarista André Valadão.
Houve ainda um protesto com faixas em frente ao condomínio do ex-presidente. "É constrangedor para nós brasileiros, a cobertura na mídia internacional da presença de Bolsonaro aqui tem sido extremamente negativa", disse o fotógrafo João Celles, um dos organizadores da ação.
Não se sabe, porém, se os problemas de saúde de Bolsonaro vão fazê-lo encurtar a viagem. Ele chegou a ser internado com obstrução intestinal no começo do mês e na ocasião disse que iria adiantar a volta ao Brasil.
Nesta semana, seu médico, Antonio Macedo, disse à Folha que ele terá de fazer uma nova cirurgia ao voltar.
Outro ponto que pode atrapalhar os planos de Bolsonaro nos EUA é seu status legal, enquanto políticos da esquerda americana têm pedido sua deportação do país.
O governo Joe Biden diz que não pode comentar casos específicos de vistos, que são informações confidenciais, mas afirma que uma pessoa que entra no país com visto diplomático de chefe de Estado e deixa o cargo enquanto está em solo americano precisa dar entrada na mudança do visto em até 30 dias, sob risco de ser expulso do país.
Alexandre Piquet, advogado que trabalha com imigração na Flórida e que atende brasileiros, afirma desconhecer o caso específico de Bolsonaro, mas diz que chefes de Estado precisam submeter a mudança de status ao Departamento de Estado (órgão equivalente ao Ministério das Relações Exteriores), que pode ou não aprová-la —não só por questões técnicas, mas pressão política também pode ser um fator decisivo.
Bolsonaro teria uma série de opções de visto, afirma, de turismo a trabalho ou até o para as chamadas "habilidades extraordinárias", para pessoas que se destacam em diferentes áreas profissionais. Se a ideia, no entanto, for mesmo se manter no país ministrando palestras, um visto de turismo não permite que Bolsonaro exerça atividade remunerada.
Fonte: Folha de São Paulo
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